terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O meu Pai


Hoje, enquanto vagueava pelo caminho das memórias, chegaram ao meu pensamento todos aqueles que amava e já partiram para o outro lado da Vida....
Porque a data do calendário, assim o exigiu, detive-me nas memórias que guardo do meu pai.... o Senhor Fonseca... mestre sapateiro...
Partiu num Dezembro de há 26 anos...
O meu pai era um homem que guardava no peito uma revolta pelas dores que havia passado na infância e adolescência, pelas mágoas que guardava do seu próprio pai. Tudo isto lhe havia de alguma forma endurecido o coração.
Gastou o seu tempo de vida a acumular aquilo que poderia ter recebido por herança.
Apesar disso, guardo dele doces recordações de infância, como ficar na cama com ele nas manhãs de domingo a fazer-lhe penteados, as idas à praia,  quando num Natal me levou a passear ao café, ou me levava a Colos, sua terra Natal e me mostrava com orgulho à sua família...
Mais tarde, o meu espírito livre, entrou em conflito com os planos que havia traçado para mim e apesar da sua forma peculiar de tantas vezes me impedir de cumprir pequenos desejos, que na altura eram grandes, não conseguiu vergar-me à sua vontade...
Nas minhas Grandes escolhas e decisões, fui forçada a contraria-lo, porque a minha essência assim o determinou....
Entristeceu-me imenso que assim fosse, doeu-me muito, mas não permiti que a sua vontade se cumprisse e suportei a tristeza de sentir que nunca aceitou a que para mim foi a principal e Grande escolha.
Hoje, com mais sabedoria, aceito, entendo-o e sei que o fez por amor, daquela forma que ele sabia amar.
Amei-o muito e fiz tudo por ele até ao momento em que segurei a sua mão na hora em que partiu...
Hoje dediquei-lhe algum do meu tempo, falei com ele e disse-lhe que o amava muito, que sempre o amei e que muito antes da sua partida lhe havia perdoado toda a tristeza que me havia feito sentir...  
Agradeci-lhe por ter permitido que eu concretizasse o meu sonho de ser professora e pedi-lhe também perdão por não lhe ter dado essas alegrias que ele tanto desejava, mas acredito que do lado de lá, as almas recuperarão toda a sabedoria e ele terá entendido porque o não fiz.


( Praia das Furnas- Vila Nova de Milfontes, há mais de 50 anos.
O meu pai e a minha mãe, do lado esquerdo e eu, a menina de chapéu)

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