domingo, 31 de março de 2013

Paz

Quanto a mim, o estado de espírito que anda de mãos dadas com a verdadeira felicidade, é o estado de Paz! 
Só em Paz poderemos saborear tudo aquilo que a vida tem e está disposta a oferecer-nos.
Se o nosso espírito não se aquietar, tudo nos passa ao lado.
Perdemos de vista as belezas que nos poderiam encantar.
Aos nossos tímpanos não chegam as melodias mágicas que percorrem os céus e os mares.
As nossas mãos não partilham o toque perfumado dos aromas da terra.
Os nossos lábios perdem milhentas oportunidades de sorrir e o nosso coração decresce-nos dentro do peito. 
Mas se formos bafejados pela capacidade de atingir um estado de Paz, aí somos donos de nós e quase nos sentimos donos do mundo, ou pelo menos unos com ele. 
A Paz acalma-nos a mente e tornamo-nos mais inteligentes.
Em Paz vemos tudo de longe, pelo que os problemas não se nos afiguram tão grandes, porque quer de um lado, quer do outro, vemos outras coisas, algumas delas, possíveis soluções.
Pela descoberta feita, deixei de ambicionar voltar a alcançar a felicidade que já vivi um dia, a única forma de ser feliz de que era conhecedora.
Hoje a graça que peço à vida, é que consiga alcançar a Paz.
Sei que se ela reinar no meu peito, poderei desfrutar de tantas maravilhas que, apesar de não atingir a felicidade de antes, o meu coração será será inundado por uma alegria mágica que me dará a sensação de que a felicidade está comigo, embora com uma roupagem diferente.
Por isso, quando a tristeza ameaça bater-me à porta, eu não lhe recuso a entrada, mas recebo-a com serenidade e aceitação, fazendo com que a Paz a supere.
A partir desse momento, resguardo-me no silêncio e aos meus olhos e aos meus ouvidos chegam múltiplas bençãos que a vida tem ao meu dispôr, para me mostrar que está comigo, guardando-me e protegendo-me. Sentindo tudo isto, respiro fundo e  dou graças, abençoando as dádivas da vida!
 Fica-me a nítida sensação de que estarei sempre acompanhada.


sexta-feira, 29 de março de 2013

Tradições da Páscoa (cont.)

Esta tarde estive no Centro de Dia e voltámos a conversar sobre a Páscoa. 
Falámos sobre mais alguns hábitos que havia antigamente e que foram caindo em desuso.
Na Quinta-Feira, trabalhavam no campo até ao meio-dia e na Sexta-Feira só iam da parte da tarde. Nestes dias ninguém comia carne, só peixe.
Os mais pobres, como não tinham dinheiro para comprar borrego,  no Dia de Páscoa, comiam jantares de grão ou de couve, ou guardavam um coelhinho para matar nessa altura. Também havia quem matasse uma galinha, mas galo ou frango, não era permitido. Falaram também nos "molhos de borrego".

Molhos de borrego: Lava-se muito bem o "bucho" de borrego, esfregando com cal e raspa-se até ficar branquinho. Depois escalda-se.  Corta-se ao bocados que se enchem e cosem à volta com agulha e linha. 
Recheio: Faz-se uma conserva com o sangue do borrego cozido com sal e esmagado depois de frio, com muita hortelã picada, salsa, cebola e toucinho aos bocadinhos pequeninos. Estes enchidos são muito bons para pôr nos "jantares" de grão e de feijão com favas. 
Eu gosto muito e fiz várias vezes! Dá muito trabalho, mas são muito bons mesmo!

 No que diz respeito a bolos e doces, foi-me dito que as famílias mais pobres, se comiam fatias de ovos nesse dia, já era muito bom. 
Havia também quem fizesse o bolo da massa do pão.

Bolo da massa do pão: Batiam-se 3 ovos e juntavam-se à massa do pão. Depois amassava-se tudo muito bem, punha-se numa forma e ia ao forno. 

Fiquei a saber que na parte da tarde de Quinta- Feira até ao meio dia de Sexta-Feira  não se podia  varrer a casa, nem mexer na terra.
Na Quinta-Feira podiam lavar roupa, mas não podiam torcê-la, tinham que a estender encharcada. Justificam este  procedimento com o facto de ter sido neste dia que foram estendidas as cordas com que amarraram Jesus Cristo.
Nesta tradição, o dia não teve consenso, pois houve quem dissesse que era na Quarta-Feira.

Tradições da Páscoa

Falando com as "minhas meninas" sobre como era comemorada a Páscoa antigamente, aprendi algumas coisas e recordei outras que a minha mãezinha me costumava contar.
Muitas contam que, no caso das famílias mais pobres, era um dia como os outros, mas os mais abastados e até os mais remediados, comemoravam esta época festiva, de acordo com a s suas posses.

Comidas tradicionais:

- Quem tinha ou podia comprar, comia sempre borrego ou as suas miudezas. Faziam com batatas, ou arroz, ou em ensopado. 
- Poucas falaram dos folares, mas em bolo da massa do pão a que davam o nome de "enxovalhada". Costumavam também fazer filhós.

Contrato da Páscoa:

Quer no Cercal, quer em Colos falaram-me nos célebres contratos que se faziam entre a rapaziada da época. Os dizeres do contrato é que variavam, assim como aquilo que combinavam e a data em que este terminava. 
O objectivo deste contrato era receber amêndoas . Quem perdia tinha que oferecer um cartuchinho de amêndoas ao outro. Nessa altura as amêndoas vendiam-se avulso. Combinavam também quantos tostões de amêndoas deveriam oferecer.
Há quem diga que faziam o contrato logo a seguir ao Carnaval, outros 15 ou 8  dias antes da Páscoa, ou antes do dia da Procissão do Senhor dos Paços, como era em Colos. 
Este contrato era normalmente feito entre 2 raparigas ou um rapaz e uma rapariga. 
Contam que ligavam um dos dedos mínimos e diziam: 
Contrato, contrato, contrato fazemos, sábado de aleluia  acabaremos ou desmancharemos. Combinavam também alguma brincadeira para fazer durante esses dias sempre que um avistasse o outro. Ex: puxa a orelha, puxa o nariz...

Em Colos deram-me outra versão: 
Fazemos contrato, contrato fazemos, rezamos às almas, às almas rezaremos, no sábado de aleluia, oferece e reza. 
Cada vez que se encontravam, o que via o outro, dizia:
- Reza - e o outro tinha que ajoelhar e rezar.

Quando chegava o sábado de aleluia ou o dia do Senhor dos Passos, andavam todos escondidos, para não se deixarem ver e não terem que dar as amêndoas e mais ainda desejosos de receber. Por vezes eram as mães ou outros familiares que ajudavam a descobrir onde estavam os outros, para conseguirem ganhar.
Quando um avistava o outro, gritava:
- Oferece 
Esse tinha que oferecer  as amêndoas.
As minhas amigas recordaram vários episódios desse tempo, muito engraçadas! 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Tarde de 27 de Março em Colos

Ontem à tarde foi tempo de actividades no Lar de Colos! 
Depois dos cumprimentos habituais, que têm que ser sempre individualizados, propus como tema de conversa, a Páscoa de antigamente. 
Falaram-me da Festa do Senhor dos Paços, que já no tempo da sua juventude se realizava em Colos. Falaram-me das comidas e doces que habitualmente se faziam  pela Páscoa. Recordaram também os célebres "contratos" que costumavam celebrar-se entre raparigas, ou raparigas e rapazes, para ganharem as amêndoas. Deixarei aqui  um texto específico sobre estas matérias.
Depois seguiu-se a Hora Do Conto, com a leitura de alguns Contos Tradicionais, que trouxeram à lembrança, outros semelhantes que algumas amigas contaram. 
Houve ainda tempo para o Jogo dos Provérbios e a repetição de algumas poesias e lengalengas.
Depois veio a hora da Actividade Física, que decorreu no Refeitório com grande entusiasmo e animação. Desta vez levei os bastões e como sempre realizámos exercícios variados, de pé, outros sentados, trabalhando as pernas, os braços e o tronco. 
De semana para semana nota-se que a capacidade de resistência tem uma evolução satisfatória assim como a forma como realizam os exercícios. 
Dentro de pouco tempo quero introduzir garrafas de água das mais pequenas, para a realização dos exercícios de braços. 

Em preparativos

Grupo em actividade




No 1ºandar também foi possível realizar algumas actividades!
 Contei-lhes 2 contos, realizei com eles alguns exercícios muito simples com bolas e fizemos também alguns exercícios de elevação de pernas. 
Como já tenho aqui deixado várias vezes, os amigos que aí se encontram estão muito limitados, quer a nível físico quer mental. Tudo o que se consegue fazer, por muito pouco que seja, é sempre o máximo. Tem que se estar constantemente a chamá-los à realidade, porque de outra forma, alguns nem começam e outros param no meio da actividade. 
Quando eles participam e sorriem, a tarde está ganha!

De regresso ao rés-do-chão, apesar da hora já ir bem adiantada, ainda houve tempo para mais um bocadinho de conversa e de encerrarmos a sessão com umas cantiguinhas, para nos despedirmos de forma animada. 
Quando olhei ao relógio, pensei... cada dia mais tarde...um dia ainda cá fico a dormir...

Quero deixar aqui as fotos dos trabalhinhos de Páscoa que os "meus meninos" fizeram com a ajuda da animadora. 
O copinho que vão receber com amêndoas no Dia de Páscoa e uma lembrancinha que irão oferecer a um dos familiares que os for visitar. 


terça-feira, 26 de março de 2013

Actividades do dia 26 de Março no Centro de Dia

Mais um dia de Actividade Física no Centro de Dia da Casa do Povo de Cercal do Alentejo! 
Hoje juntou-se ao grupo mais um atleta!
Já havia tempo que andava a tentar convencer este amigo e hoje foi o dia da decisão. Para principiante, portou-se muito bem! 
Ao menos já temos dois membros do sexo masculino. Ainda é pouco, mas estou esperançada de que ainda vou convencer mais outro!
Hoje demos início à utilização de um novo material de apoio: as garrafas de água. 
Como desde que dinamizo esta actividade ainda não tinha utilizado este material, enchi as garrafas só até meio, mas houve logo quem dissesse que eu as estava a chamar de «moles». 
Ficou assente que da próxima vez em que voltarmos a utilizar as garrafas, encherei a maioria delas.
A participação foi activa como sempre e a música bem animada também ajudou. 
Fica aqui a reportagem fotográfica possível: 



sexta-feira, 22 de março de 2013

Tarde de 22 de Março no Centro de Dia

Mais uma tarde bem animada no Centro de Dia!
Como tema de conversa escolhi as tradições da Páscoa. Falaram-me nos célebres Contratos de Páscoa de que deixarei aqui o registo outro dia. Já tinha feito esta recolha em Colos e verifiquei que havia algumas diferenças relativamente ao texto do Contrato.
Registei ainda algumas lembranças das minhas meninas.
Seguidamente li-lhes alguns Contos Tradicionais Portugueses  e treinámos a memorização de poesias e lengalengas. Também lhes passei algumas gravações feitas em Colos, que escutaram com muita curiosidade.
O tempo restante foi para nos divertirmos em conjunto! Desta vez coloquei em jogo várias bolas ao mesmo tempo, para fazerem lançamentos à vontade e foi mesmo divertido! 


Lembranças de Colos (cont.)

Pensar a Vida

Mote
Pensei, que pensar a vida
não dei a vida pensada.
Não pensei  a vida bem,
pensando, não pensei nada.

Eu pensei naturalmente
que o pensar, é que valia.
Pus-me a pensar um dia
no pensar da outra gente.
Pensei daqui ao diente,
eu vou pensar à medida,
pensei uma coisa parcida
e estava de caso pensado
pensei que pensar a vida,
pensei e fiquei enganado.

Pensei o mais natural,
pensei com toda a certeza,
pensar bem não é   fineza
quando não se pensa mal.
Pensei uma coisa tal,
pensei até de manhã.
Pensei não há mais ninguém
que pense neste período.
mesmo  pensando isto tudo
não pensei a vida bem.

Pensei de livre vontade
que a pensar ninguém me obriga.
Há quem pense e até diga
que o pensar não é verdade.
Pensei que era a liberdade,
saiu-me  a  conta  furada.
Não pensei a tabuada
nem coisa que se  pareça
e já me doía a cabeça
mas não dei a vida pensada.

Pensei ao longe e ao perto,
pensei de toda a maneira.
Pensei não batia certo.
Pensei uma grande asneira.
No arraial de uma feira
pensei que  havia tourada.
Pensei que à porta fechada,
tinha que tirar bilhete,
não pensei que se aproveite.
Pensando, não pensei nada.

D. Idália recordou mais uma poesia do seu pai.




quarta-feira, 20 de março de 2013

Lembranças de Colos (cont.)

Olhos

Olhos, teus lindos olhos,
olhar, teu lindo olhar,
que me faz entreter
sem eu ter nenhum vagar!

D. Joana




Adivinha

Campo redondo, ovelhas ao longo, pastor formoso e cadelo raivoso? Vem a ser o quê?

Resposta: O campo redondo é o céu, ovelhas ao longo são as estrelas, pastor formoso é o Sol e cadelo raivoso é o vento.

D. Engrácia


O casar é um Enleio

Mote: 
O casar é um enleio
numa cisma de amizade
se não há compreensão
não pode haver lealdade.
É o destino da vida
do tempo antigo em geral
uns calham bem, outros mal,
nem tudo calha à medida.
 A mulher arrecebida
sempre tem outro recreio
mesmo que ache o homem feio.
 Ao depois de ser casada
não se dá desenleada
que o casar é um enleio.
É um decreto assinado
por dever da natureza,
não é nenhuma riqueza
para o pobre necessitado.
Não se sabe o resultado
do resto da mocidade.
é uma realidade
ter amor até ao fim
acontece mesmo assim
numa cisma de amizade.
Tem-se visto casamentos
às vezes sem ser esperados
se não forem namorados,
já têm conhecimentos.
Conheço mais de quinhentos
que andam tirando a experiência
para sua  conveniência
fazem coisas de má raça
 e estão sujeitos à desgraça
se não houver consciência.
Casa  um homem qualquer
tem que saber o que faz
vê que não é capaz
vai desgraçar uma mulher.
Dê lá as voltas que der
ao escuro ou à claridade
sempre de boa vontade 
para não andar na tabela
e se não fizer caso dela
não pode haver lealdade.


D. Idália recordou uma poesia de seu pai.


terça-feira, 19 de março de 2013

Lembranças recolhidas em Colos

 Pico, Pico

Pico pico, maçarico
quem te deu tamanho bico?
Foi a filha da rainha
que está   morta na cozinha.
Os cavalos a correr,
as meninas aprender.
Qual será a mais bonita
que se irá esconder?
Era um jogo em que várias raparigas estendiam as mãos e iam dizendo os versos. A mão em que calhasse o verso « que se irá esconder», saía e ficava atrás das costas. Ganhava o jogo quem ficasse com a mão no fim do jogo.

D. Maria Inácia

Anedota de Bocage

Bocage ia passando por uma rua  e estavam duas meninas à varanda.
Ele ia «muito porco, muito untado». Uma delas disse:
- Olha além vai o Bocage, parece um azeiteiro!
Ele seguiu viagem, não disse nada. Deu a volta e voltou por outra rua. Quando passou não as viu e bateu à porta. Elas vieram outra vez à varanda e ele disse-lhes:
- Ouçam lá meninas, vendem aqui azeite?
- Ah, não... (disseram elas)
-Há bocado passei aqui e vi aí dois «coiros» à varanda, pensei que vendiam aqui azeite...

«coiros» - recipientes onde punham o azeite antigamente

D. Maria Inácia


Versos do Bocage 

André Pinto andar não podia
o médico mandou chamar.
Veio o médico receitou,
André Pinto pôs-se a andar.

D. Preciosa

A Maria da Fonte

A Maria da Fonte
é uma mulher como as demais
de espada na cinta
para debelar os Cabrais.
É avante Portuguesa,
é avante sem temer
e pela santa  liberdade,
triunfar até morrer!

D. Preciosa

Fui ao Mar
Fui ao mar acender lume
embarquei numa faísca
engracei com os teus olhos,
logo à primeira vista.

D. Preciosa

A Lua

Alta Lua, vai alta,
mais alto vai o luar,
mais alto vai o destino
que Deus tem para nos dar.

D. Preciosa

O Sol-Posto

O Sol-posto vai doente
e a Lua vai-lhe sangrando
e as estrelas são macias,
que o sangue vão aparando.

D. Idália


O Sol

Já lá vem nascendo o Sol
que é o Rei da alegria.
Se o Sol um dia faltasse
ai de nós o que seria!

 D. Idália e D. Engrácia



segunda-feira, 18 de março de 2013

Tarde de 18 de Março em Colos

Mais uma tarde bem animada, no Lar de Colos!
Hoje as minhas meninas estavam viradas para as poesias e então foi só correr de um lado para o outro de gravador em punho e gravar tudo, para depois aqui vos deixar mais umas pérolas.
Em seguida foi o tempo da leitura de vários Contos Tradicionais Portugueses, que provocaram boas risadas. 
Ainda iniciei um momento de cantigas, mas tivemos que guardar para outra vez, porque as vozes não estavam nos melhores dias, por causa das constipações.
Depois do lanche foi tempo que exercitar o corpo!
O número de exercícios de pé tem aumentado de semana para semana, assim como o número de repetições de cada exercício, principalmente os mais leves. 
Grandes atletas, estes meninos! 





No 1ºandar hoje havia maior limitação, mas realizaram-se alguns exercícios com bolas, com lançamentos e movimentos de braços e pernas. 
Naquele espaço, cada dia as coisas acontecem de modo diferente, pois estão sujeitas ao estado em que aqueles meninos se encontram. Há dias em que estão mais activos, outros dias mais prostrados. 
Hoje fez-se tudo para os despertar e fez-se o trabalho possível!


sexta-feira, 15 de março de 2013

Tarde no Centro de Dia

Mais uma tarde bem "docinha", no Centro de Dia!
Decidi dedicar semanalmente um tempinho a ajudar uma das meninas que está mais limitada a realizar alguns exercícios de Actividade Física. Levei umas bolas e consegui que ela realizasse vários movimentos de pernas e braços. Esta amiga, de início participava nas aulas, mas depois ficou mais limitada e deixou de poder ir. Então esta foi a forma que encontrei para que ela faça alguns movimentos, embora mais simples e durante um período de tempo mais reduzido. 
Depois disto começámos pela repetição das poesias e das lengalengas, que já havia tempo não treinávamos, pelo que algumas já estavam a ficar esquecidas. 
De seguida veio o Jogo dos Provérbios em que continuam umas craques. 
Entretanto lembrei-me de criar uma pequena brincadeira para lhes exercitar o raciocínio. Como a última poesia que treinámos falava de galinhas, fui criando situações com ovos e galinhas, que ora aumentavam, ora diminuiam, para elas somarem e subtrairem mentalmente.
 Fiquei surpreendida com o bom raciocínio da maioria. Gostaram, pelo que no próximo dia vou criar outro jogo do mesmo tipo, pois é muito bom que continuem a exercitar a memória e o raciocínio. 
Também lhes li alguns Contos Tradicionais Portugueses, que acharam muito engraçados. 
Para finalizar a tarde, experimentei tirar uma bola  e comecei a lançar a uma de cada vez, primeiro de seguida  e depois de forma aleatória. Foi um sucesso, porque até quem não costuma participar, aceitou entrar no jogo. Depois propus que fossem elas a atirar a bola umas às outras. Foi uma animação! Riam quando apanhavam e quando deixavam cair.
Olhei para elas e pensei: Todos temos dentro de nós uma criança e eu tinha conseguido trazê-las à superficie. 
Quem alinhou na brincadeira, foi o Sr. Zé, o nosso único atleta e estava tão entusiasmado que até aceitou atirar a bola com a mão que tem limitada, por causa do AVC. 
Quando de lá saí, só uma palavra me veio ao sentido - Gratificante!



Actividades em Colos

As actividades em Colos, decorreram como sempre de forma bastante agradável.
Antes de iniciar  e depois dos cumprimentos da praxe, levei o portátil, para lhes mostrar umas fotografias do meu netinho, porque todas as semanas me perguntavam por ele. Senti que ficaram tão contentes! Enquanto olhavam para as fotografias, algumas brincavam com ele, como se ele estivesse ali na frente delas. É sempre comovente! 
Começámos a falar sobre mezinhas e registei algumas recolhas.
De seguida li-lhes alguns contos tradicionais e a seguir veio o Jogo dos Provérbios que já havia tempo não fazíamos. Ficaram por trabalhar as lengalengas, porque não houve tempo. 
Após o lanche, veio o momento da Actividade Física. Dá gosto ver que o grupo vai crescendo. Desta vez tivemos mais um companheiro  e achei graça, porque todas as semanas o desafiava e nesta não lhe disse nada. Quando o vi chegar e sentar-se nem disse nada, mas quando o vi começar a  fazer os exercícios, fui ter com ele e dei-lhe uma palavrinha de incentivo. Fiquei contente! 
Desta vez levei os bastões. É digno de se ver, como eles já realizam os exercícios tão certinhos, todos ao mesmo tempo. Nos exercícios que exigem menos esforço, já repetem 20 vezes, com um tempo para descansar a meio. Grandes atletas! Claro que tenho o cuidado de fazer pausas e perguntar se estão cansados e também lhes digo que cada um pode parar quando se sentir cansado. Mas raro é o que pára a meio. 
Então aqui fica a reportagem fotográfica do grupo. Na próxima semana tenho que apanhar mais exercícios.





O 1º andar estava a dar alguma preocupação, não só a mim como à animadora. Ficámos de encontrar actividades alternativas, mas não tínhamos tido ideia alguma. 
Então decidi tentar novamente os exercícios mais simples. Seria mais uma tentativa... 
Após realizarmos alguns exercícios com as bolas, eu a brincar fingi que lançava a bola a um amigo. Ele recebeu e voltou a lançar-me a bola. Começámos a fazer o mesmo com os restantes. Naquele exercício tão simples, verificou-se o elevado grau de incapacidade daqueles meninos. 
De início apenas 2 conseguiam lançar a bola. Os restantes levantavam a mão, mas não soltavam a bola, ou não conseguiam fazer o movimento simples de lançamento. Depois com  a continuação, só uma pessoa não conseguia. A alternativa, para a fazer participar, foi que ela deixasse cair a bola e  a recebesse de volta.
Tanto eu, como  a minha amiga animadora, estávamos contentíssimas, ou melhor dizendo, muito emocionadas. 
Afinal na simplicidade, descobrimos a fórmula mágica, pelo menos para já. 


Como a actividade estava a correr bem, demorámo-nos mais algum tempo, de forma que de regresso ao grupo inicial, só deu para mais um bocadinho de conversa, que também faz bem . Estive a contar-lhes as malandrices da minha gata e elas fartaram-se de rir. 
Depois vieram as despedidas e as recomendações de costume.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Mezinhas para o estado de fraqueza

Mezinhas com agrião

Chá de agrião
Torra-se o agrião no forno e depois faz-se chá que se adoça com mel.
 Dizem que é bom para os pulmões e para o sangue.


Xarope de agrião
Fervem-se os talos de agrião com açúcar amarelo em 1/2 litro ou 1l  de água. Deixa-se ferver até ficar por metade.
Deixa-se arrefecer e põe-se no frigorífico. Toma-se 1 colher de sopa, 3 a 4 vezes por dia.
É bom para a fraqueza.


Mezinha de agrião
Numa panela de barro iam-se colocando camadas de agrião e outras de açúcar amarelo. tapava-se com uma rolha de cortiça e metia-se no forno. Depois de frio tomava-se às colheres, várias vezes ao dia. 
Costumavam dar às pessoas que estavam fracas e não tinham apetite.


Mezinha de pernas de cágado
Costumavam apanhar cágados nos barrancos e cozinhavam as pernas com arroz.
 Era bom para a falta de apetite.

[A propósito desta mezinha, uma amiga contou que um rapaz que não falava bem e que gostava muito deste arroz, volta e meia andava na rua e dizia ao pai: pai, cago... pai, cago... (cago- cágado)]


Mezinha de toucinho rançoso
Fritava-se toucinho rançoso de 3 anos, juntava-se mel e limão e batia-se bem. Depois, num apanela de barro nova, punha-se a ferver com 1l de água e oregãos.
Dava-se a beber às colheradas durante 9 dias em jejum.
Era bom para a fraqueza. 
Contam as minhas meninas que resultava mesmo, embora o gosto fosse muito mau. Calcula-se...


Cataplasmas de antigamente

Deixo aqui 3 tipos de cataplasmas usados para tratar gripes, constipações e tosse:

- Velas de Sêbo de Holanda esmagadas no meio de papel pardo, que era aquecido ao lume e depois era colocado no peito e nas costas.

- Papas de Linhaça que enrolavam num pano e bem quentinhas, eram colocadas no peito e/ou nas costas.

- Papas de rolão que eram aplicadas da mesma maneira.

 As "papinhas de linhaça", ainda lhes sinto o cheiro... lembro-me da minha mãe mas colocar tão quentinhas que quase pelavam...

Para papeira [o papo] ou garganta inflamada:

[Enxúndia] ( gordura) de galinha aquecida e colocada sobre a garganta, embrulhada em papel pardo ou mesmo directamente.
Por vezes faziam-se pequenas bolinhas de gordura que se  passavam pelo açúcar e eram engolidas.


terça-feira, 12 de março de 2013

Oração a St. António

Responso de Santo António

Se milagres desejais
recorrei a Santo António;
vereis fugir o demónio
e as tentações infernais.

Recupera-se o perdido
rompe-se a dura prisão
e no auje do furacão
cede o mar embravecido.

Todos os males humanos
se moderam, se retiram.
Digam-no aqueles que o viram
e digam-no os paduanos.

Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão
e no auje do furacão
cede o mar embravecido.

Pela sua intercessão
foge a peste, o erro, a morte,
o fraco torna-se forte
e torna-se o enfermo, são.

Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão
e no auje do furacão
cede o mar embravecido.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.


Recupera-se o perdido.
Rompe-se a dura prisão
e no auje do furacão
cede o mar embravecido.

* Rogai por nós, bem-aventurado Santo antónio, para que sejamos dignhos das promessas de Cristo.

Súplica a Santo António

Meu querido Santo António, Santo dos mais carinhosos, o vosso ardente amor de Deus, as vossas sublimes virtudes e grande caridade para com o próximo, vos mereceram durante a vida, o poder de fazer milagres espantosos. Nada vos era impossível, senão deixar de sentir compaixão pelos que necessitavam da vossa eficaz intercessão. A vós recorremos e vos imploramos que nos obtenhais a graça especial que neste momento pedimos. ( pedir a graça) Ó bondoso e santo Taumaturgo, cujo coração estava sempre cheio de simpatia pelos homens, segredai as vossas preces ao Menino Jesus, que tanto gostava de repousar nos vossos braços. Uma palavra vossa nos obterá as mercês que pedimos.

Oração usada para pedir alguma graça, ou para o aparecimento de alguma coisa que tenhamos perdido. 

Oração extraída do livrinho " As Treze Terças-Feiras em Honra de Santo António",  que me foi carinhosamente cedido pela D. Preciosa Louzeiro, residente no  Lar de Colos.






domingo, 10 de março de 2013

Reflexão

Na semana passada, houve um dia em que acordei e a primeira frase que me veio ao sentido foi: Hoje é o primeiro dia, do resto da minha vida...
Ao pensar isto senti-me triste e angustiada. Tanto neste dia, como nos que lhe seguiram, o meu peito foi habitado por emoções que não me eram estranhas. Fui-lhes prestando atenção e não que isso diminuisse o seu efeito, mas ao menos sabia de onde vinham  e quando as sentira pela primeira vez. Pode parecer pouco, mas pelo contrário é bastante. É meio caminho andado!
 Descobri que estas dores não eram do presente, mas sim do passado. Que não era o acontecimento presente que me estava a causar dor, mas sim o reviver do duro golpe do passado. O meu «corpo de dor» voltara a estar activo e eu voltava a sofrer tudo de novo, com uma intensidade semelhante à anterior. A minha mente voltava a não me dar tréguas e eu via-me a saltitar entre a dor do passado e o medo do futuro. 
Entretanto a pouco e pouco fui silenciando a mente e os pensamentos conscientes começaram a surgir. O acontecimento presente nada tinha com o do passado. O outro representava o fim e este um início. O outro tinha o cheiro da morte e este o aroma fresco da vida. 
A pouco e pouco a paz foi ficando por momentos cada vez mais longos no meu espírito e hoje creio que se ela não se instalou de vez, já poucos pertences lhe falta trazer, para que o faça. 
Esta manhã, quando acordei fiquei a pensar em tudo aquilo que perdi durante estes dias em que andei a travar esta luta... aquilo que não vi, não ouvi e não senti... quantas maravilhas me passaram despercebidas... lamentei mas não me condenei. Fiz o que me foi possível...
O que mudou em relação à semana passada? A situação mantém-se, mas a minha forma de a ver, essa mudou e eu passei a vê-la de uma forma mais leve, mais suave, mais natural... 
Mais uma vez tomei a coragem de viver no Agora! Se possível não olhar para trás, nem para diante. Olhar apenas onde pouso os meus pés e quando erguer a cabeça terei muito com que me encantar, apreciando as flores do campo, as nuvens do céu, os pássaros a esvoaçar, o Sol, a Lua, o mar, os rostos daqueles com quem me cruzo, desenhar estrelas em vários olhos, pintar sorrisos em várias bocas, escutar tudo o que me cerca e até deleitar-me com a magia do silêncio... E depois tenho-me a mim para cuidar e aos meus para amar, bem como a todos aqueles que têm um cantinho no meu coração.
Para quê olhar para trás, se o que conta está dentro de mim? Para quê olhar para a frente, se cada acordar é um renascer feito de milhares de momentos em que eu posso virar o leme para outra direcção? 
Nada é permanente nem na Natureza, nem no Universo e cada dia também nós somos diferentes, mas Agora é assim que penso e viver assim é a minha decisão deste Agora. Mais logo... amanhã... outro dia... não sei...


sábado, 9 de março de 2013

Mezinhas e Benzeduras

A partir de algum material que já tinha recolhido há uns anos num projecto que envolvia os meus alunos da Escola de Aldeia do Cano, os alunos das escolas de Pouca Farinha, Sonega e pessoas idosas destas localidades, decidi alargar a pesquisa com os conhecimentos das "minhas meninas" do Cercal e de Colos.
Como este é um tema especial e para que os registos sejam de mais fácil consulta, decidi criar uma etiqueta específica para o mesmo. 
Como em todas as recolhas que faço, sinto-me como alguém que está a recolher tesouros do fundo do mar,  antes que a força das águas os arrastem até sítios para sempre inacessíveis.
Estes são saberes que um dia irão ficar irremediavelmente perdidos, pelo que por vezes sinto-me, numa luta contra o tempo para os recolher, guardar e preservar.
Como posso deixar escapar algum tema importante, solicito a quem segue o blog que me sugira alguns que lhe pareçam importantes. 
Nesta etiqueta irão surgir mezinhas caseiras, feitas a partir de plantas e de outras substâncias por vezes até meio estranhas e as tais rezas - benzeduras e orações. 
Antigamente eram estes os saberes de que as pessoas se socorriam para tratar quase todo o tipo de enfermidades. 
Os médicos eram a última opção, já em situações ditas extremas. 


Contos das Meninas de Colos

Conto da D. Idália


Um filho, como o pai já era muito velho e não o queria ter em casa, decidiu mandá-lo embora à procura de um albergue. Antes dele sair arranjaram-lhe um pequeno farnel e o filho deu-lhe uma manta velha para ele se abrigar. 
Quando o velho ia a sair de casa, o neto chegou ao pé dele e disse-lhe:
- Avô, dê cá essa manta para eu a cortar ao meio.
- Ao meio? Então tu ainda és pior do que o teu pai, que só me deixas levar metade da manta- Disse o velho muito triste.
- Pois avô, vocemecê leva metade, porque  a outra metade é para eu dar ao meu pai, quando ele for da sua idade e eu o mandar também embora de casa.
O filho do velhote ao ouvir isto, encheu-se de remorços e disse ao pai:
- Afinal meu pai, deixe-se ficar aqui com a gente.


Conto da D. Engrácia

O conto da nossa amiga, é semelhante ao primeiro, só difere na parte final.
O filho entregava ao pai, junto com o farnel, uma tigela velha. 
Quando o avô ia a sair de casa, veio o neto e disse-lhe:
- Avô, vocemecê vai-se embora, mas a tigela fica cá em casa.
- Mas então, nem a minha tigela, mesmo velha, me deixas levar. Ainda és mais ruim que o teu pai. - disse o velhote.
- O avô não pode levar a tigela, porque quando o meu pai for velho e eu o mandar embora, ele vai levar esta tigela com ele. 
Também aqui o filho se arrependeu e não mandou o pai embora.