domingo, 30 de setembro de 2012

Dia do Idoso

Amanhã, dia 1 de Outubro comemora-se o Dia Nacional do Idoso! 
Esta efeméride foi criada para chamar a atenção de todos nós em relação aos nossos idosos, aos nossos velhinhos, ou como eu gosto de dizer aos "nossos meninos de cabelos brancos". Eles merecem o nosso respeito, merecem ser tratados com dignidade, com atenção, carinho e amor. Tudo isto porque eles já nos deram tanto e fizeram-no em tempos bem difíceis, em que tinham tão pouco e em condições de extrema dureza. 
Nas minhas conversas, quando falamos dos tempos que correm, muitas dizem-me que agora, apesar das coisas não andarem bem, isto não é nada, comparado com o tempo em que eram jovens. Falam-me das necessidades que passavam, a dureza dos trabalhos... 
Desde sempre convivi com pessoas idosas a aprendi a respeitá-las e mais ainda a admirá-las, pela sabedoria que carregam com elas. 
Os nossos velhotes, quando são tratados com dignidade e respeito, libertam uma serenidade que contagia. Deixou de haver pressa, há todo o tempo do mundo, aquele que ainda lhes resta. Depois há a doçura e o agradecimento pelo beijinho à chegada, por um abraço de passagem, por um toque, um carinho...
Este meu percurso pelo voluntariado com idosos, tem-me dado muito e ao contrário deles, eu é que tenho pressa! Sim, pressa de recolher tudo aquilo que me puderem ensinar, porque  a ideia de tanta sabedoria se perder, causa-me tristeza. 
Na minha vida profissional lidava com crianças, que ficavam alegres e riam quando fazíamos coisas engraçadas, ou realizavam uma atividade para a qual estavam motivadas. O mesmo se passa com os nossos velhotes. Os olhinhos deles, mesmo a não verem já muito bem, ou até muito mal em alguns casos, brilham quando lhes leio os contos, as anedotas, quando cantamos... E quando lhes dou um miminho a alegria que brota deles, enche-me o coração. É como se o amor que lhes dou, voltasse para mim, não sei quantas vezes mais. Já tenho dado comigo a pensar que este meu gosto pelo voluntariado com idosos é um gesto egoísta, porque será que eu vou para dar, ou vou para receber? 

Centro de Dia de Cercal do Alentejo


Lar de Colos


sábado, 29 de setembro de 2012

Formas de Ser Feliz

Hoje sou feliz com esta nova forma de felicidade que descobri através das recentes leituras.
Hoje sou feliz, baseando a minha felicidade nas maravilhas que me cercam, mirando o céu e o mar, apreciando os campos e toda a vida que me rodeia.
Hoje sou feliz, agradecendo a Deus ou à Energia Cósmica, ou ao Poder do Universo, por tudo aquilo com que me presenteou. 
Dou graças pela minha família linda, pelas amizades verdadeiras que conquistei, pela minha condição financeira que me permite uma vida confortável e por tudo aquilo que tive o privilégio de me ser emprestado até hoje, em abundância.
Hoje sou feliz com esta nova forma de felicidade que antes nem sabia que existia!
Apesar disso, há muitos momentos em que regrido em toda a minha aprendizagem e volto a sentir uma imensa saudade da felicidade antiga,  a única que até há pouco conhecia! Aquela felicidade em que precisamos estar acompanhados para não nos sentirmos sós, que precisamos de nos sentir amados, precisamos de carinho, de atenção...
Mas, à medida que o peito se comprime, da mente começam a libertar-se pensamentos conscientes, que me fazem retroceder e regressar ao caminho certo. Então eu desperto e recolho-me no meu interior profundo, onde brota  a fonte desta nova felicidade que descobri, que se baseia em dar de mim, em ter pensamentos positivos, não guardar mágoas nem rancores, em ter cuidado com as palavras e não usar expressões negativas, porque tudo aquilo que der, fizer ou disser, voltará para mim ainda com maior intensidade.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A Força dos "Acasos"

Na obra "A Insuscentável Leveza do Ser", li que quando uma relação se constrói a partir de uma sucessão de acasos, é porque está no nosso caminho, porque nos está predestinada. 
Concordo plenamente!  É como se o Céu no-la oferecesse, como uma dádiva! Ou como se tivessemos que vivenciar aquela experiência!
Assim foi a minha relação com o meu companheiro! 
Num dia de paz, em plena guerra, ele decidiu escrever um aerograma para encontrar uma amiga!
Sem ideia fixa de destino, decidiu escolhê-lo ao acaso, tendo-lhe este ditado um, em que os meus passos e os do carteiro jamais se cruzariam. 
E foi por acaso que essa mensagem foi entregue a uma colega minha, que naquele dia, em circunstâncias normais, não estaria sequer naquela localidade. 
Dias depois, foi às minhas mãos que essa correspondência veio parar. E isso só aconteceu porque naquele dia, por acaso, eu não consegui esquivar-me, por muito que o tentasse, de ir assistir a uma determinada aula e ainda por cima, obrigada a sentar-me ao fundo da sala, num lugar que me desagrava, mas que ficava ao lado dessa colega.
E foi assim, que por uma repetição de "acasos", eu soube da existência do meu grande amigo, mais tarde meu companheiro.
Depois foi obra do meu coração solidário, com tanto para dar a quem tanto precisava receber!
Mais tarde, por forças que eram adversas ao afeto que nos ligava, quase nos desencontrámos e por pouco não nos perdemos um do outro, ainda antes de nos termos encontrado efetivamente! 
Fomos salvos por mais um acaso! Mais uma vez, por mero acaso, eu não fui onde supostamente deveria ter ido naquele dia e fiquei em casa, tendo assim a oportunidade de reparar os estragos.
Até no dia em que finalmente ficámos frente a frente e nos vimos nos olhos um do outro, isso também foi fruto de mais um "acaso". Se por acaso eu tivesse ficado onde habitualmente ficava, não nos teríamos cruzado, pelo menos nesse dia.
Pela minha experiência de vida, confirmo que uma relação que nasce de uma sucessão de acasos, só nos pode estar predestinada e tem que ser abençoada pelos céus.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Poder das Leituras

Naquele período bem difícil da minha vida, em que  a saudade era tanta, que eu não sabia se iria resistir, vieram ter comigo as obras do Dr. Brian Weiss. Digo vieram ter comigo, porque hoje acredito que tudo o que é para nós, nos chega de um modo natural, sem que precisemos esforçar-nos por procurar. Estava longe de saber quem era Brian Weiss, por isso nunca poderia procurar as suas obras. 
Um dia alguém que me conhecia muito bem e acompanhava o meu estado, quando leu o livro "Só o Amor é Real - Encontro de Almas Gémeas", pensou que seria importante que eu o lesse e trouxe-mo. Só vos digo que me impressionou bastante!  Os relatos sobre reencarnação e reencontros entre vidas, deram-me certezas e trouxeram-me a esperança de novo reencontro.
Quando terminei a obra, procurei outras do mesmo autor ou de outros na mesma linha. Li vários livros, apenas comprei um, todos os outros tive-os por empréstimo. Não sei como, mas foi fácil ter acesso a diversas obras sobre estes temas. Parecia que vinham ter comigo, sem quase me mexer... Um dia, mal amanhecia, ligou-me uma colega a dizer-me que levara toda a noite a ler uma obra e só pensava em mim. Julgo que era também um livro deste mesmo autor.
Serenava-me a alma este tipo de literatura porque fazia-me acreditar que quem parte para o outro lado da vida não deixa de estar connosco, continua a amar-nos, perdoa se alguma falta cometemos em vida para com eles, querem que aceitemos a sua partida e estejamos em paz, pois da nossa paz depende  a deles, para prosseguirem o seu caminho, a sua evolução. 
Foi por acreditar em tudo isto, que fiz um enorme esforço para aceitar e para seguir adiante e em paz.
Entretanto ao pesquisar sobre o Dr. Brian Weiss, descobri que estava à venda um CD de meditação, traduzido em português, com o modelo que ele usa nas suas sessões de meditação e adquiri-o.
Foi mais uma experiência fantástica!
Quando me conseguia concentrar enquanto o ouvia , vinham-me ao pensamento momentos que havia muito tempo não recordava e outros que já nem me lembrava que tivesse vivido. Todos eles eram tristes, e representavam situações vivenciadas ao longo da infância e adolescência, nas quais me tinha sentido humilhada, magoada, rejeitada... Situações que, por terem sido dolorosas, tinha apagado da mente.
Quando terminava ficava em paz e ao sair à rua, parecia que tinha apurado a minha capacidade de observação. Sentia-me sobretudo serena e no coração crescia uma estranha forma de alegria que precisava partilhar com outras pessoas. 
Sei que foram estas leituras e aquilo em que me fizeram acreditar, que me forçaram a pedir ajuda especializada para me reerguer e seguir o meu caminho, para que o meu companheiro, também pudesse seguir o seu. 

Lembranças da D. Ada



O Velho, o Rapaz e o Burro

Partia o velho campónio
do seu monte ao povoado,
levava o neto que tinha
no seu burrinho montado.
Encontram uns homens que dizem:
-Olha aquele que tal é?
Montado o rapaz que é forte
e o velho trôpego a pé!
O velho disse:
Rapaz, desce do burro
que eu monto
e vem caminhando atrás!
Monta o velho e dizem logo:
Patetice tão rata
o tamanhão no burrinho
e o pobre pequeno à pata.
E então foi mais adiante
e montaram-se os dois.
Foram seguindo e disseram uns:
- Apeiem-se almas de breu
Querem matar o burrinho?
Aposto que não é seu!
Os dois apearam-se.
Foram mais adiante e disseram:
- De tudo nos têm ralhado,
agora o que mais nos resta
pegamos no burro às costas
fazemos ainda mais esta!
Pegaram, mas logo ouviram um sussurro:
-Temos o mundo às avessas,
tornados burros do burro!

Os Passarinhos

Os passarinhos tão engraçados
fazem os ninhos com mil cuidados.
São p’ros filhinhos que estão pra ter
que os passarinhos os vão fazer.
No bico trazem coisas pequenas
o ninho fazem de musgo e penas.
Nunca se faça mal a um ninho
à linda graça de um passarinho.
Que nos lembremos sempre também
do pai que temos, da nossa mãe.

Mãe

Com três letrinhas se escreve
a doce palavra mãe,
a palavra pequenina,
a maior que o mundo tem!

D. Ada (prima direita da minha mãe) tem 92 anos. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Atividades no Centro de Dia

Ontem, parte da tarde foi passada no Centro de Dia!
Conversámos sobre as tradições de outono.
Aqui houve quem dissesse que a tradição do Dia de Todos os Santos também foi conhecida por ir ao "Pão Por Deus", além de ir ao "Bolinho". As dádivas eram mais ou menos as mesmas: castanhas, nozes, romãs, batatas doces e havia quem desse  feijão e até farinha. 
Pelo S. Martinho referiram que ao serão comiam castanhas que assavam no lume de chão, numa panela velha e  também comiam castanhas e batatas doces cozidas. Quem tinha forno costumava assar estas batatas. Tanto as castanhas, como as batatas doces eram cozidas em panelas de barro, ao lume de chão. As bebidas eram água-ardente, ou vinho doce que também acompanhavam com "figos passados". 
 Era um serão em família, com os divertimentos habituais na época: contos, cantigas, adivinhas... 
A seguir estreámos os novos provérbios populares e fizemos um jogo. O desempenho foi muito bom, pois não houve grande diferença de pontuação e a animação foi grande. 
Depois foi a Hora do Conto em que lhes li 2 contos "A História do Senhor Manuel Valente" e "Os Três Galegos", às quais acharam muita graça.
No final passámos aos trabalhos em papel, mas como estava muito perto da hora do lanche, não deu para fazer muita coisa. Decidi que no próximo dia, esta atividade será  a primeira da tarde. 
Também planeei fazermos um painel de outono, com elementos da natureza. 
Tanto os trabalhos em papel, como o painel de outono serão depois expostos num espaço a criar na Instituição.



Era com este tipo de trabalhos que antigamente as pessoas mais pobres enfeitavam as casas. Decoravam as paredes com estas rosetas e faziam almofadas, que enchiam com restos de papel.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Intolerância

Desde ontem que este tema não me sai da cabeça. Há tantas pessoas intolerantes... Gastam demasiada energia a criticar e a julgar atitudes e comportamentos de outros. Cruzam-se com as pessoas na rua e em vez de as olharem nos olhos ou pelo menos no rosto e verem como se sentem, se estão alegres ou tristes, se lhes poderão prestar a sua solidariedade, não! Preferem reparar como vão vestidas ou com quem vão. Quando estão com alguém a quem têm amizade, em vez de aproveitarem para abrir o coração e aliviar as tristezas e desilusões que por vezes carregam, não! Gastam o tempo a falar de atitudes e decisões de outras pessoas. E pior ainda, além de julgarem, condenam sem dó nem piedade. 
Recordo-me que já na minha adolescência não pactuava com estas atitudes e muitas vezes acabava também por ser julgada e condenada por isso. Não aceitava discriminações e por vezes ia até mais longe, dava-me com colegas que dela sofriam. Nunca nada se me pegou e sempre fui dona  e senhora da minha cabeça, dona da minha vida e livre de tomar as decisões que a minha consciência me ditava. Mas irritava-me e revoltava-me! 
Hoje com mais aprendizagens feitas, já não me revolto nem me irrito e procuro ser tolerante com a intolerância dos outros. Sorrio e penso que quem tem acesso ao seu interior profundo, apenas ama tudo e todos que o rodeiam, é tolerante, respeitador das decisões dos outros e tem compaixão para com aqueles que tomam decisões erradas, mas nunca os julga ou condena. Aliás as religiões fazem-nos crescer com o medo da condenação de Deus. Talvez por isso muitas pessoas são descrentes. Deus é amor e se é amor não julga  e muito menos pode condenar!
Hoje acredito que viemos a este mundo para experiênciar diversas situações e que cada um é livre para fazer as suas escolhas. Há quem diga até que antes de reencarnarmos, escolhemos logo aquilo que vamos vivenciar... Não sei, quem sabe? As consequências, boas ou más que daí advierem, cairão por inteiro em quem escolhe esses caminhos. Quando essa escolha não assenta em traição, mentiras...quando é feita em plena liberdade, porque não? Quem tem direito a julgar e mais ainda a condenar? Se for uma escolha inconsciente, apenas devemos sentir compaixão por quem não aprendeu ainda a respeitar o seu semelhante.
Diz-se que quem julga, será julgado e quem condena, será condenado. Não sei se assim será, mas se assim for, estarei fora desta trama. Mas mesmo que assim não seja e se um dia alguma decisão minha, já tomada ou a tomar, vier a ser motivo de julgamento ou condenação, isso não me afetará, porque tal como desde sempre, sei que foi ou será sempre uma decisão consciente, cujas consequências apenas recairão sobre mim.
Para quem ainda não aprendeu a ser tolerante, deixo um conselho: Olhem para dentro de vós e busquem a vossa fonte de amor e vivam a partir dela, amem os outros com as suas qualidades e seus defeitos, ou pelo menos respeitem-nos, olhem em redor para apreciar as coisas belas que a vida tem e tomem as vossas decisões em consciência, em liberdade, sem medo de censuras, julgamentos ou condenações. 
Desculpem se feri sensibilidades, mas este é um gesto de paz e de amor!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cada Dia um Renascer

Há dias fui caminhar um pouco junto ao mar!
 Faço-o imensas vezes, só que desta vez tive a perceção de que foi diferente de todas as outras. Normalmente faço este percurso para libertar tristezas e dores, ou para folhear o livro das memórias distantes ou recentes. Em muitas dessas vezes, o meu corpo anda por lá, mas o espírito fica distante e quando regressa é por meros momentos, ausentando-se de novo. Quando consigo manter-me presente de corpo e alma, sinto-me sempre pequena e frágil perante a  imponência do mar.
Desta vez foi diferente! Senti que estava lá por inteiro desde o primeiro ao último momento. Dei-me conta disso, mal me descalcei e senti o contacto com a areia. Senti-a completamente em contacto com os meus pés, o modo como os cobria, o maior ou menor esforço que fazia ao dar cada passo, a sua textura, a temperatura... e fui-me dando conta de todas as alterações até me aproximar do mar.
Depois toda eu me entreguei à beleza que me cercava e deixei que me inundasse a alma.
Um paraíso, pensei eu! E engraçado que desta vez não me senti pequena perante o mar nem  me senti maior que ele. Desta vez senti que tanto eu como ele, ocupávamos o centro do universo. Senti-me especial, única e privilegiada, por ter a capacidade de observar em pleno toda aquela beleza.
Sentei-me na areia e abri os braços para continuar a ser abençoada com tamanha maravilha, que me transmitia sensações de paz, de liberdade e de uma alegria imensa, que me abria uma janela por onde podia distinguir uma estranha forma de felicidade. Estranha, porque é uma felicidade diferente daquela que me habituei a conceber. Felicidade que não depende de nada além do que a natureza tem à minha disposição e também não depende daquilo que alguém possa sentir por mim, do que alguém me poderá dar. Felicidade que apenas depende de mim, de me centrar no meu ser interior, de me manter no agora e apenas sentir... Felicidade de vem de dentro para fora e que me traz ao olhar o brilho de lágrimas suaves e faz o meu coração bater num compasso com tanto de agitação como de serenidade. Felicidade que me desperta e me faz descobrir coisas que tantas vezes me passaram despercebidas. Assim, neste meu passeio à beira-mar, conciencializei-me que cada dia pode ser um renascer, para fazer coisas que nunca fizemos, descobrir aquilo que ainda não tínhamos descoberto e viver de um modo diferente, aprendendo a valorizar as pequenas mas imensas preciosidades que estão à nossa disposição aqui neste mundo e a utilizar o poder que temos dentro de nós.


Lembranças de Outono

Hoje no Lar de Colos falámos sobre o outono e pedi-lhes que me contassem as recordações que tinham desta estação do ano.
Disseram-me que os principais trabalhos eram: a vindima, apanha das nozes, dos tomates chamados de inverno, apanha da azeitona e plantação das hortas. 

Falaram-me da tradição de "Ir ao Bolinho", que acontecia no dia 1 de Novembro, Dia de todos os Santos, em que as crianças, com "talegos" de pano,  iam a casa dos lavradores pedir os "bolinhos". Normalmente davam-lhes castanhas, romãs e batatas doces. Em algumas destas casas faziam-se broas de milho e "brandeirinhos" da massa do pão, para dar um a cada criança que lá fosse.

Também referiram a tradição do S. Martinho, dia 11 de Novembro, em que ao serão, à roda da lareira, as famílias assavam castanhas e bolotas, que os adultos, principalmente os homens, acompanhavam com anis, água-ardente... Enquanto comiam e bebiam, contavam contos, adivinhas e cantavam. 

Era ainda nesta estação que em algumas  casas acontecia "a matança do porco", que era um dia de festa. A família juntava-se. Os homens ajudavam a matar e a arranjar o porco e as mulheres a lavar as tripas e a tratar das carnes. A almoço era sempre "cachola" frita e "moleja". 


Além desta conversa, pudemos realizar mais um período de Atividade Física, que correu muito bem. Realizámos exercícios de pé e outros sentados e toda a gente colaborou. Quem não podia mexer as pernas, mexia os braços e vice-versa, ou seja cada um movimentava o que podia. 


Também "jogámos" ao Jogo dos Provérbios, desta vez com nova recolha que eu fiz, porque os outros já estavam todos" na pontinha da língua"! Desta vez já não empataram todas, mas a maioria acertou tudo.
Claro que ainda houve tempo para a leitura de um conto, de umas anedotas e terminámos a tarde com umas cantiguinhas, para a despedida ser em beleza.
Foi uma tarde muito agradável, muito doce, com muita alegria...

sábado, 22 de setembro de 2012

Meu Anjo


Já foste tudo para mim! Começaste por ser o meu grande amigo. Depois como que por artes mágicas, a amizade virou um amor multifacetado, em que entravam todas as formas de amor que podem ligar deste lado da vida dois seres humanos.
Foste meu companheiro, meu amor e sempre, sempre meu amigo. Aquele amigo de todas as horas. Amigo de uma amizade sem limites, embrulhada em papel  com o brilho do amor e da paixão, com grandes laços de ternura e carinho.
Lindo era este presente com que a vida me agraciou! Lindo e mágico! 
E tão mágico era, que um dia subiu ao Céu e virou Anjo!
Hoje és o meu Anjo!
Proteges-me e amparas-me nas piores quedas. Lavas-me a alma das dores maiores. Enches-me o coração nos momentos de solidão e tristeza. Pintas-me na boca sorrisos que escondem as lágrimas que teimam em continuar a escorrer. Iluminas-me o olhar e abres-mo à beleza do céu e do mar. Com a tua magia, elevas-me o coração e a alma. E quando a saudade aperta, levas-me em viagem pelos caminhos da felicidade que trilhámos, tornando-a mais leve.
Meu Anjo! É isso que és hoje para mim!


(texto escrito em 25 de outubro de 2008)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vestuário de Antigamente

Antigamente não havia roupa feita, para comprar. Normalmente, cada pessoa fazia a sua, pelo menos  a interior. Também não tinham muita. Era a roupa de domingo e alguma para a semana. O mesmo acontecia com as crianças. Tinham  a roupa de ir à escola e outra mais velha para vestirem quando saíam. No Inverno, muitas vezes as mães lavavam a roupa quando vinham do trabalho e secavam-na à lareira, para que os filhos pudessem ir limpos para a escola no dia seguinte. Nas pessoas pobres, a roupa era remendada, quando se rasgava, para durar o máximo de tempo possível. 
As senhoras também faziam a sua roupa interior, que era constituída por várias peças: o soutien, a camisa, a combinação e as cuecas. A camisa era uma espécie de combinação, mas mais curta, que lhes chegava mais ou menos pela cintura ou anca. Como na altura não tinham elástico, as cuecas tinham um cós e abotoavam de lado com um botão. Algumas tinham perna. As mais habilidosas faziam uma rendinha para enfeitar a roupa interior, bem como as camisas de dormir. 
O vestuário também era feito por cada pessoa ou pelas costureiras. Muitas vezes algumas amigas juntavam-se e compravam peças de tecido que depois dividiam entre si, para fazerem vestidos, porque ficava mais barato. Depois só tinham que mudar o modelo dos vestidos.  Naquele tempo em cada terra havia muitas costureiras, quer de roupa de senhora, quer de roupa de homem.
 As raparigas, ou iam trabalhar para o campo ou iam aprender costura. Algumas trabalhavam no campo, quando havia que fazer e quando não havia trabalhavam na costura.
A minha mãe andou na costura, em roupa de homem e contava que havia lá muitas raparigas e cada uma tinha que levar a sua cadeira e um ferro pequenino, que aqueciam ao lume para passar partes do vestuário antes de coser, para não estarem à espera umas das outras. Ela também contava que se divertiam muito a contar coisas que se passavam, cantavam, contavam histórias, pregavam partidas engraçadas umas às outras...
Quanto ao calçado, muitas pessoas andavam descalças até serem adultas. A maior parte das raparigas, tinham um par de sapatos ou sandálias, no máximo dois. Neste caso um era para os dias de festa. De Verão usavam "alpercatas" que eram uns chinelos de sola de borracha, com tecido por cima e algumas tinham umas borlas a enfeitar. Havia também quem fizesse as apercatas em casa, como sola de corda. No Inverno usavam "tairocos" que eram também uns chinelos com sola de pau  e que em cima tinham pele de coelho, por isso eram muito quentinhos. Também havia quem fizesse os seus próprios "tairocos" e havia famílias que faziam para vender a outras pessoas. 
Também havia muitos sapateiros que faziam os sapatos e as sandálias para mulheres e crianças e as botas para os homens.
( O grupinho da costura, da minha mãe. A mestra está ao meio na fila de baixo. A minha mãezinha é a última da mesma fila, do lado esquerdo)

(Cá estão os tais vestidinhos, com o mesmo padrão, mas modelos diferentes)

Alma Sábia

Esta manhã, o que me veio à mão para reler, fez-me ficar a pensar que há gente com uma alma tão sábia, ou talvez mais, que há quem consiga aceder à sabedoria da sua alma!
Acredito na reencarnação. No entanto, apesar  de muitos de nós, ou quem sabe todos, já cá terem estado  muitas vezes, só alguns conseguiram evoluir e utilizar durante a vida a sabedoria que guardam na sua alma, sabedoria que foram armazenando ao longo das várias caminhadas. 
Acho que o meu companheiro era uma dessas pessoas! 
Fiquei consciente disso ao reler uma carta em que me falava da sua infância difícil, devido às necessidades que passou, por ter ficado orfão de pai muito pequeno e ter sido forçado a trabalhar tão cedo!
Contava-me dos medos do escuro em pleno campo com o gado, do frio pela pouca roupa e da fome, porque a comida era fraca...
Depois veio a vida militar e a guerra, na qual viu a morte tão de perto... 
Apesar de tudo isto, ele era um ser humano positivo, que conseguia retirar de todas as adversidades da vida, algo de bom, de positivo. 
Da infância, dizia que se orgulhava por ter podido ajudar a mãe e porque só tinha ficado mais forte, mais corajoso.
Da guerra, apenas falava dos  momentos agradáveis, das festas que faziam pelos aniversários, ou pelos Santos Populares. Agradecia ter ido à guerra, pois caso contrário nunca nos teríamos encontrado... 
Ao longo da nossa vida a dois, sempre que nos acontecia algo de complicado, ele dizia sempre que havia males que vinham por bem e lá descobria sempre algo de bom, no meio da desgraça, que mais não fosse que os problemas tinham servido para sacudir a nossa relação e unir-nos ainda mais. 
Muitas vezes zangava-se comigo, quando eu me lamentava e enumerava-me uma infinidade de privilégios com que  a vida me tinha abençoado. Ao ouvi-lo envergonhava-me de tantas lamentações! 
Até durante a sua doença, durante muito tempo ele descobriu pontos positivos. 
O reler aquela carta, em que ele me contava a sua infância e adolescência, não pude deixar de pensar que dentro dele havia um alma sábia, detentora da verdadeira sabedoria da vida, que consegue abstrair-se de pormenores e valorizar o que é realmente importante, o que é positivo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Os Sonhos que a Saudade Traz

 Durante alguns anos, perdi a minha capacidade de sonhar! Vivia mergulhada numa dor profunda, que me impedia de entrar no mundo do sonho.
Por instinto de sobrevivência, criei um mundo de fantasia, onde amainava a minha dor e recuperava as minhas forças. Quando me embrenhava nele, sentia-me abençoada por um tempo de bonança. Nesses períodos, em que muitas vezes supus de demência, alimentava o amor dentro do peito e amava à distância! Tantas vezes imaginava as suas visitas, assim feito espirito e quase sentia a sua presença. Quase garantia que ele estava ali a meu lado e de forma emocionada, o sorriso misturava-se com as lágrimas. Muitas vezes falava-lhe e quando sentia que voltara a ficar só, enviava-lhe um beijo enamorado e agradecia-lhe a sua visita.
Foram anos assim, a ler folhas que o tempo tinha amarelecido, a escrever-lhe cartas e a dedicar-lhe textos que não materializava. Anos longe do sonho, mas perto da fantasia e da ilusão.
Quando este mundo deixou de me bastar, dei comigo a criar outro, em que misturava a fantasia com uma estranha forma de sonhar. E tão sedenta estava de sonhar e também tão destreinada estava de ter um sonho meu, que teci fantasias sem tino. Fantasias de querer voltar a ter quem sempre tive, de continuar a amar quem sempre amei! Queria tanto! Tanta era a saudade! Saudade que crescia imparável no meu coração, toldando-me o pensamento e deixando-me à mercê desta minha capacidade de sonhar que estava a renascer e que agora se misturava com aquele mundo de fantasia que eu havia criado, para me refugiar e sobreviver.
E desta forma sonhei, não que ele continuaria a visitar-me nos melhores e piores momentos, mas que, quem sabe, parte da sua alma se mantinha aqui, deste lado da vida, com outra forma, com outro rosto...
Sonho cego foi este, que me fazia olhar em volta a ver se o meu coração lhe descobria a alma. A certeza era tanta que eu juntava todo o  mar de sentimentos e tinha-os ali à mão, à espera que o milagre acontecesse.
Mas a magia acabou por quebrar-se e eu despertei desse sonho cego e sem sentido! Sonho que apenas a saudade podia ter plantado em meu peito! Sonho em que eu mergulhara, pelo tanto que lhe queria e pelo tanto que tinha para lhe dar.
Foi a minha alma sábia que um dia me chamou à razão e me fez apoiar os pés na terra e entender que ele partiu e que se uma parte ficou deste lado da vida, essa parte não terá outro rosto, nem outra forma. Essa parte que eu sei que não partiu, nem jamais partirá, terá eternamente lugar cativo no meu coração e no de todos que o amaram.
A partir deste momento, posso até ter regressado ao mundo da fantasia  e da ilusão. Posso até ter voltado a  procurar os tais papéis, agora ainda mais gastos pelo tempo, ou até ter voltado a escrever-lhe cartas que nunca irá ler. Que importa? Será demência? Não quero saber! Prefiro continuar a dedicar-lhe esta forma de amor, do que a outra, de sonhos cegos, impulsionados pela imensa saudade que sinto dele, do meu companheiro, daquele que é hoje o meu amigo do Céu e que continuará a proteger-me, bem como àqueles feitos de nós.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Atividades no Centro de Dia

Ontem dediquei parte da tarde às "minhas meninas" do Centro de Dia!
Como sempre, conversámos um bocadinho sobre a minha vida e sobre elas. De mim querem sempre saber com estou, como estão os meus filhotes e agora então, perguntam-me logo se já nasceu o meu netinho, ou quando nasce e se está tudo bem com a minha filha... 
Também me perguntaram sobre as atividades de Colos e eu conto o que fizemos lá e mostro-lhes as gravações que fiz.
Iniciámos então as atividades com o célebre jogo de provérbios, que corre sempre bem. Vou ter que procurar outros diferentes, porque estes, já os sabem de cor. 
De seguida li-lhes o conto "O Príncipe do Lodo", que também tinha lido em Colos. Normalmente quando lhes leio os contos, procuro sempre que interajam durante a leitura, fazendo perguntas, deixando lacunas ou pedindo sugestões sobre a forma como irá continuar a história. É uma forma de as manter ligadas, de reterem a informação e de memorizarem partes da leitura. Tal como em Colos, acharam o conto muito bonito! 
Depois foi o tempo de repetir lengalengas e poesais, que traz sempre grande risota, com as misturas e os enganos.
A última atividade foi pedir-lhes que me ensinassem a fazer as tais rosetas e almofadas em papel, que costumavam fazer quando eram novas, para decorar as casas. A "coisa" não correu lá muito bem, porque eu, como era para experimentar, levei uns jornais e elas disseram-me logo que o papel não prestava. Tenho lá umas "meninas" bem habilidosas, mas não se cansavam de relamar do papel... Mas com paciência e no meio de alguma brincadeira, foram fazendo umas coisas e deu para eu aprender. Para a semana, vou então levar papel apropriado e o resultado vai ser surpreendente. A D. Custódia, a nossa jovem de 99 aninhos, teve a amabilidade de, com grande paciência e carinho, ao longo da semana fazer em casa, uma almofadinha que me ofereceu.
(A almofadinha da D. Custódia ) 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Atividade Semanal em Colos

Ontem, as "meninas" de Colos estavam quase todas meio adoentadas, de forma que não fizemos Atividade Física.
Inicíamos com um Concurso de Provérbios Populares e perguntas de atualidade e outras que têm a ver com a região. Correu muito bem e elas gostaram.
De seguida li-lhes o conto "O Príncipe do Lodo" da obra "Contos Tradicionais Portugueses" de Ana de Castro Osório. Tinha uma história extensa, cheia de magia e mistério, encontros e desencontros e como sempre acontece, elas viveram passo a passo as aventuras e no final acabam sempre a bater palmas.
Depois foi a vez de treinar a memória com a repetição das lengalengas já trabalhadas.
Agora que o Lar dispõe de uma Animadora a tempo inteiro, tenho também oportunidade de articular com ela alguns trabalhos de decoração do espaço, que vai ficar um mimo!
O tema da conversa que propus, foi quais os trabalhos que realizavam na sua juventude. Não deu para fazer todos os registos, porque todas gostam de participar e contar as suas experiências em pormenor. Será um tema  a continuar no próximo dia. Depois farei uma síntese que publicarei aqui.
A seguir ao lanche e para terminarmos com animação, li-lhes algumas anedotas engraçadas e elas também me contaram algumas que se foram lembrando.
Claro que como sempre houve alguns versinhos, que ao longo da tarde se iam lembrando e eu gravei, para ir deixando por aqui.
Criei para cada uma, o Cartão de Participação nas Atividades de Voluntariado, com os seus dados e a fotografia e também lhes entreguei  cartões com o link do blog, para entregarem aos familiares, de modo a que também eles possam acompanhar as publicações da participação de cada uma delas. Achei que esta partilha  pode promover uma ligação mais estreita com a família. 


Versos de D. Maria Inácia - Colos

O Trigo
Com todo o meu merecimento
vou ao altar de sacramento
e tenho um valor profundo.
Com todo o meu merecimento 
vou ao altar de sacramento
e dou alimento ao mundo.
Para que eu de baga
hei-de ser grão
Deus me deu essa virtude,
é para que toda a gente cuide
que é de mim que se faz o pão.
À terra me deitarão
e ali me verão nascer 
e ali me hão-de vir ver.
Com todo o meu merecimento  
no altar de sacramento
não sou Deus, mas hei-de ser.

Deitarão-me no crescente   
e no alguidar e no forno
cresço a dobrar
no caldo ainda hei-de crescer
com todo o meu merecimento
no altar de sacramento
eu não sou Deus, mas hei-de ser.
Com todo o meu merecimento
vou ao altar de sacramento
e digo aquilo que sei.
Com todo o meu merecimento
vou ao altar de sacramento
e vou à mesa do rei.

( D. Maria Inácia tem 83 anos de idade e tinha bem memorizados estes versinhos)

Os versos foram transcritos na íntegra, sem alteração de formas verbais. 
Eles retratam as várias utilizações do trigo, desde a alimentação até ao seu uso nas cerimónias religiosas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vila de Colos

Adeus oh vila de Colos
estás metida num buraco,
se não fosse o padre Eloi
não valias um pataco.

A vila de Colos tem
duas coisas que dão graça,
é o relógio da torre
e o candeeiro da Praça. (D. Idália)

Viva a vila de Colos
cada vez está mais concorrida,
tem um lagar à entrada
e um cemitério à saída.

Viva o Lar de Colos
e viva a sua Festa Anual,
vivam os seus habitantes
que têm um lindo mural. (D. Maria Guerreira)

Adeus oh vila de Colos
não és vila nem cidade,
és uma capela de ouro
onde brilha a mocidade  (D. Preciosa)

Adeus oh vila de Colos
já te estou a conhecer.
Tenho pena do local
onde estou a viver. (D. Joana)

Adeus oh vila de Colos
Estou aqui com muita alegria.
Nunca pensei na minha vida
vir para aqui um dia.  (D. Emília)

(Algumas destas quadras são antigas, outras foi criadas no momento)

Sonhar

Sempre me conheci uma sonhadora! Comecei a sonhar muito cedo! Já em criança sonhava para encher o vazio que me cercava. Ao sonhar inventava companhias com quem brincava e ficava tudo tão real, que apenas me faltava vê-las.
Quando alguma tarefa menos agradável me era destinada, mergulhava a fundo no mundo do sonho e da fantasia e realizava-a quase sem dar por isso. Enquanto o fazia, via-me princesa ou rainha ou então fada ou feiticeira, uma daquelas personagens mágicas das histórias que me costumavam contar.
Fui crescendo e a capacidade de sonhar, bem como a dimensão dos sonhos foram crescendo comigo.
Grande estava a ficar o meu pássaro do sonho! Cada vez voava mais alto! Então os sonhos de brincadeiras viraram sonhos de amor! Como eu sonhava...
E comecei a misturar tudo, o amor dos príncipes e das princesas com o das personagens dos romances que então lia... E sonhava, com um coração doce e puro que apenas queria encontrar o amor, que somente queria amar e ser amada. 
Era tão cedo! Mas aquele pássaro de asas longas e destemidas não me dava sossego. 
Um dia o meu coração sonhador, sedento de afeto, abriu-se talvez à mais nobre forma que o amor pode ter, no qual ele se traja de vestes de tonalidades delicadas e suaves, na sua forma de amizade.
E com palavras ditadas pela alma a pouco e pouco fui dando tudo aquilo que se ia libertando do âmago do meu interior profundo. Tudo aquilo que representa o verdadeiro amor, aquele em que apenas se quer dar. E dei! Durante meses e meses dei aquele amigo de quem desconhecia o tom de voz, o som do riso ou o brilho do olhar. Aquele amigo, a quem sentia uma alma gémea da minha. Aquele amigo, que tal como eu, se dava, abrindo-me um coração, que eu adivinhava puro e sonhador que nem o meu.
E ao mesmo tempo que dávamos de nós, o sonho ia crescendo imparável, neste meu coração sonhador. E eu, em silêncio, via-o crescer, fechando a sete chaves este segredo. Um dia, sem saber como, dei-me conta que as vestes de cores leves e suaves, haviam adquirido tonalidades fortes e brilhantes e aí o sonho escapuliu-se das minhas mãos! Estava grande demais e eu deixei de conseguir segurá-lo! Foi aí que a amizade virou o tal sentimento sublime, no qual cabem todos os outros. O tal que nos pinta estrelas no olhar, que nos agita o coração, nos faz tremer as pernas... O tal sentimento onde continua a caber a amizade e o companheirismo a que se junta tudo o que de nobre e puro pode libertar-se da alma de um ser humano e mais ainda da alma de um coração sonhador, como foi, é e será o meu, enquanto um sopro de vida e uma réstia de entendimento houver em mim.

sábado, 15 de setembro de 2012

Sou adepta do Amor


 Sou adepta do Amor!
O Amor é o meu clube do coração! Também pode ser o meu partido. Pensava ser apartidária, mas afinal descobri que o não sou.
Sou adepta incondicional do Amor! Sou militante ferrenha, sou lutadora incansável pela sua ideologia. Sempre combati nas suas fileiras, batalhando com a bravura de um soldado nas trincheiras.
Por ele sempre dei o corpo e a alma em qualquer batalha sem medo, nem sequer colocando a remota hipótese de ser batalha perdida. Pelo amor, vale a pena lutar com o corpo e com a alma!
Pelo Amor, cedo levantei o estandarte e pelegei, como brava guerreira, sem ao menos descansar, enquanto a vitória não estivesse à vista.
Eu sou pelo Amor! Pela sua pureza e pela sua grandiosidade! Ainda hoje, é por ele que rio, me emociono e choro.
Hoje sinto-me soldado na reserva, mas nunca dissidente, pois nunca voltarei as costas e tão valorosa missão. Embora a força para lutar se vá esvaindo, ainda existe em mim um rastilho daquela que já existiu em tempos e é com ele que, sempre que posso ajudo outros nessa lide fenomenal.
 Sou e sempre serei adepta do Amor! O meu coração irradia felicidade ao ver o Amor florindo primaveril, na troca de olhares e carinhos entre dois jovens, trazendo-me à lembrança momentos já vividos. Mas a emoção sobe mais alto quando me deparo com o amor  refletido nos dedos entrelaçados daqueles que, mesmo já no outono ou inverno da vida, não deixaram de se amar. Aí deixo de segurar a fonte das lágrimas e choro, choro sempre, não de inveja, mas pelo que, por forças superiores e tudo quanto existe nesta dimensão, fiquei privada de ter. 
Mas não importa! Sou e sempre serei adepta do Amor!
Só os adeptos do Amor poderão atingir o climax da felicidade!  O Amor vale sempre a pena, pois quem não o tiver encontrado ao longo do seu percurso, poder-se-á dizer que passou pela vida sem viver.
O Amor é vida e eu sinto-me orgulhosa por sempre ter abraçado tal causa, a causa do Amor!

( texto escrito em agosto de 2006)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Como era o Exame da 4ª classe

A D. Preciosa conta com muito orgulho como foi o seu exame da 4ªclasse. 
Foi o único que fez, diz com algum ressentimento, porque a mãe não quis que ela fizesse o exame de admissão para poder continuar a estudar. A razão é que os irmãos nem tinham ido à escola. 
Então como morava em Colos, foi fazer o exame a Odemira. Foi num carro de parelha e ficou cinco dias numa pensão, para fazer a Prova Escrita e a Prova Oral. 
Conta que estreou um vestido creme, cujo feitio custou 30 escudos, o que era caro na época. Levou umas meias 101 (eram meias de seda, as melhores que havia) e uns sapatos de vernis. 
Na Prova Escrita, diz que apareceu lá o diretor e correu a sala a ver todas as provas e depois pegou na dela  e disse que era a letra mais bonita da sala. A D. Preciosa conta isto com um largo sorriso de orgulho. 
Na Prova Oral, diz que soube tudo, no livro, no quadro e ao mapa. Conta que tinham que saber muitas coisas. 
Certo que tenho uns aninhos a menos que a D. Preciosa, mas também me lembro do meu exame da 4ª classe. Lembro-me que também estreei um vestido que era azul com umas aplicações de flores brancas bordadas. Levei uns sapatos de vernis e umas peugas brancas. 
Recordo-me que a meio da Prova Escrita tínhamos que fazer durante um tempo, um trabalho de croché ou bordado. Já sabia fazer croché e a minha mãe começou-se um entremeio para um lençol para continuar durante a prova. Quando chegou a hora, estava muito calor e eu devia estar tão nervosa, que foi um desastre! Transpirei tanto que até a linha custava a correr e ficou tudo molhado. 
A Prova Oral correu bem. Recordo-me que a minha mãe foi assistir e quando acabei, vim ao pé dela perguntar "se tinha dito tudo bem". 
Ainda nesse tempo o programa era muito extenso. Tínhamos que aprender tudo sobre Portugal Continental, Insular e ainda sobre as antigas Províncias Ultramarinas. Saber os rios e afluentes, as serras, as linhas de caminho de ferro... sei lá, montes de coisas.
Ainda hoje me pergunto, como conseguíamos aprender tanta coisa? E as tabuadas? Aprendíamos e retínhamos a aprendizagem para o resto da vida.
Em relação às tabuadas e pela minha experiência profissional, nunca entendi a razão pela qual as crianças de hoje esquecem as tabuadas, depois de as terem decorado. Não falando daquelas que nem chegam a decorá-las... 

D. Preciosa Louzeiro tem 89 anos e encontra-se no Lar de Colos