sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sinais de Esperança

Durante alguns anos, quando o calendário ficava reduzido a uma folha e outro estava à espera para o substituir, o meu coração ficava ainda mais pequeno e a fonte de todas as dores, pelo contrário, aumentava de caudal. Eram dois meses em que nem sei como as forças bastavam para suportar tanta dor, tanta angústia, tanta revolta, tanta tristeza, tanta solidão e por fim, quando me sentia esvaída, restava-me a apatia, o sentir-me oca e o querer simplesmente dormir... se possível um sono eterno... 
Nada tinha significado! Nada estava inteiro! Nada podia ser igual... 
O Natal era a festa da família e deixara de o ser, porque a família tinha-se quebrado!
O Ano Novo representava um começo, que para mim, era apenas mais uma sequência de outros acordares e adormeceres de olhos  ardentes daquela dor que tinha criado lugar cativo dentro de mim.
Foram  anos em que levava os primeiros vinte e três dias de dezembro a preparar-me para representar o papel de pessoa tranquila, nos dois dias seguintes. Depois descia o pano, eu recolhia ao camarim e aí podia ser aquilo que o meu peito dilacerado permitia...
Nos dois primeiros anos, escondi tudo que me dissesse que o novo ano estava a começar, tomei todas as drogas possíveis e quando acordei, outro dia tinha nascido. Não tinha importância se já era do outro calendário que já estava à espera de ser pendurado, sabia que seria apenas mais um dia para eu continuar parada naquele caminho negro, frio e aterrador, onde me mantinha desde que o sol tinha desaparecido da minha vida. 
No terceiro ano, já me mantive acordada e para companhia naquela noite que para todos era de festa, escolhi remexer em papéis amarelecidos pelo tempo e a reviver outras noites como aquela em que a festa era feita de sabores, gestos e emoções. Nessa noite os olhos não ficaram secos, nem o coração serenou, mas já dava para medir a dor e a tristeza... Recordo-me que houve momentos em que quase podia jurar, não estava sozinha... 
Só a partir do quarto ano, consegui que esta noite a dor ficasse esquecida e embora sempre voltasse a ver os tais papéis amarelecidos pelo tempo e a revoltar o baú das memórias, as lágrimas que me desciam pelo rosto já não ardiam, já não queimavam nem a pele, nem o peito. Eram lágrimas doces, de uma saudade leve, que apesar de ser gigante, já não doía. Nestas noites tinha  a certeza, que ali, ao cantinho da lareira, embora de forma diferente, estava o meu companheiro de sempre, o maior amigo, o único e verdadeiro amor...
Passados que são sete natais e sete passagens de ano, este ano escolhi mudar o calendário longe do cantinho da minha lareira, longe dos papéis que o tempo foi amarelecendo...
Não sei como vai correr, porque comigo levarei o tal baú, aquele onde guardo todos os tesouros... 
Vai ser uma experiência, mas sei que será abençoada pelo céu e sei que se a qualquer momento, me vir tentada a abrir o baú, ao meu coração vai chegar uma mensagem das muitas que guardo em que ele me dizia: 
- Sai, diverte-te e aproveita a vida! 
Se nesse momento os meus olhos deixarem de ficar secos, será de emoção, por sentir que finalmente estamos os dois a caminhar e que a minha paz será sempre a dele. Vou olhar dentro de mim e dizer:
- Luísa, mereces alegria e bem-estar na tua vida...

domingo, 23 de dezembro de 2012

O Poder do Mar

A Natureza tem um super poder sobre mim! 
Um simples passeio pelo campo, contendo a mente e mantendo-me presente, opera milagres no meu estado de espírito. Se eu não me deixar arrastar pelos pensamentos sobre situações do passado ou fantasias do futuro, se conseguir sentir onde pouso os pés, se me der conta da aragem no rosto, dos sons e dos aromas, posso garantir que a paz volta a reinar no meu peito, que a ansiedade, a angustia e os medos evaporam. No lugar de tudo isto, renasce a paz e uma alegria interior que não se explica por palavras...
Caminhando pelo campo, sinto-me renascer... mas quando escolho o mar... o milagre parece ainda mais inexplicável... 
O mar além de ter o efeito reparador tem como que uma ação curativa. 
Quando me vejo perante ele, os pensamentos param e eu sinto tudo aquilo que vem dele, de uma forma tão nítida...
Ainda hoje fiquei perdida no tempo a olhá-lo e sentia-me completa, como se apenas ele me bastasse. A brisa acariciava-me o rosto e o meu olhar perdia-se na sua imensidão. Fechava os olhos e sentia que algo entrava em mim a cada inspiração. 
O bem-estar era tal que me apeteceu abrir os braços para acolher tudo o que me estava a ser enviado e como sempre dei graças.
Depois pensei que afinal as coisas simples são as que mais nos preenchem e nos elevam o espírito! 






sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Novo Dia, Novo Começo

Apesar de se ter pensado que seria o último, ontem antes de adormecer pensei que quando acordasse iria ser, como sempre, mais um começo. 
Acordei bem cedo, nada surpreendida por ainda cá estar e como sempre dei graças por mais vinte e quatro horas que representam mais de mil minutos para aproveitar! 
Pois é, o dia começou cedo e a labuta também! 
Apliquei saberes que nunca sei de onde me chegam e fiz coisas que ninguém me ensinou. Quando isso acontece questiono-me sempre de como sou capaz e agora a resposta chega mais depressa. Nunca estamos sós, estamos sempre protegidos e quando damos graças pelo que temos, estamos sempre a receber bençãos e saberes. 
Adquiri o hábito de agradecer, aliás desde pequena que sempre agradecia às pessoas, quando me davam alguma coisa. Mas hoje dou graças, nem sei bem a quem, por tudo o que tenho, por tudo o que chega até mim. Por vezes digo -Obrigada meu Deus! Mas a maior parte das vezes, digo apenas - Obrigada e nem sei a quem me dirijo, se a Deus, se ao Universo... no entanto acho que isso não é importante... também não considero importante se acredito ou não se há um Deus... mas acredito que há algo a que tudo e todos estamos ligados. 
Quando fui ao quintal, colhi um fruto da minha fruteira natural e voltei a agradecer e enquanto saboreava aquela dádiva da natureza, olhava o céu e tudo que me cercava e sentia a energia dentro do meu corpo. A tal paz e alegria sem tamanho inundou-me o coração e sem ser preciso olhar-me ao espelho, sabia que o olhar brilhava e disse para mim:
- Luisinha, tão bom teres aprendido a deliciar-te com as pequenas coisas da vida! O teu mundo tem tudo o que precisas para sentir este novo bem-estar.
Senti a energia a crescer-me cá dentro e senti-me pronta e capaz para fazer tudo e mais alguma coisa ao longo dos tantos minutos que este dia tem para me oferecer.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Natal a chegar...

Está a chegar o Natal! A tal festa da família, aquela que deixou de ter sentido, quando a família deixou de estar junta fisicamente. 
Durante anos, só a próximidade desta quadra, fazia-me aumentar o aperto no peito. Quando passava pelas pessoas e me diziam - Feliz Natal- parecia que a dor galgava a fronteira da força, da coragem e até da paciência...
Porém, quando a noite de Natal chegava, era como se de repente toda a tempestade amainasse e a paz descia sobre mim. Sem saber explicar como, a tristeza evaporava-se miraculosamente e eu sentia que a minha família estava completa... ali não faltava ninguém... e sem dor falava de quem não víamos com os olhos do corpo. Fazia-o sem amargura na voz e relembrava outras tantas noites com aquela, em que além de sentirmos que estávamos juntos, podíamos ver-nos, abraçar-nos e rirmos das brincadeiras, das prendas que por vezes quem dava, ficava à espera de quem recebia abrir o embrulho, para saber o que tinha dado. 
Mas este Natal tem um sabor especial, porque é o primeiro em que a família começou a ficar maior! 
Neste Natal vamos estar todos juntos, os de sempre, da forma que nos ficou possível e ele o nosso querer maior, o nosso anjinho que há pouco tempo chegou para viver neste mundo, ser muito feliz e para ser protegido e amado por todos nós.
Este Natal vai ser um Natal de verdade, de Paz, Amor, Alegria e Felicidade e a Saudade... essa ficará escondida, lá num cantinho secreto do coração, que só eu conheço... e onde ninguém a irá descobrir...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Janeiras (cont.)

Esta casa está caiada,
esta rua está varrida,
toda a mulher que é asseada,
pela rua é conhecida.

Senhora lavradora,
deixe-se estar que está bem,
mande dar a esmola às almas,
pela rosa que aí tem.



Aqui estou à vossa porta,
mais ... (nº) camaradas meus,
falar bem pouco me custa,
boa noite lhe dê Deus.

Lá vai uma, lá vão duas,
por cima do seu telhado,
Deus queira que tenha fortuna,
com o que tem semeado.

Cada bago dê uma espiga,
cada espiga um punhado,
cada punhado um alqueire
e um alqueire em quarteirado.  (1 quarteiro = 15alqueires)


Quando se apercebiam de que tinham sido enganados com chouriços cheios de farelos, voltavam atrás e cantavam:

Ainda agora aqui estivemos,
já cá estamos outra vez,
viemos entregar o chouriço,
à grande p... que os fez!

Nova Forma de Vida

Hoje sinto que algo dentro de mim mudou! 
Estas foram as palavras que a mente me acabou de ditar, só que ao terminar de as escrever, vi que esta expressão não tinha o menor sentido.
Então de forma consciente deverei corrigi-la para - Hoje já consigo ver dentro de mim e estou a tentar viver de acordo com a minha verdadeira essência, com o meu Ser. 
Após variadíssimas leituras e de praticar vários exercícios nelas propostos, dou por mim, em muitos momentos a observar os meus pensamentos e as minhas emoções e muitas vezes abro a boca para falar e acabo por tornar a fechá-la, por verificar que o que vou dizer não tem o menor sentido.
Estou a aprender a ser vigilante dos meus pensamentos, das minhas emoções, das expressões que vou dizer. 
Procuro usar expressões positivas, ter pensamentos positivos e acreditar que tudo vai correr bem. 
Apesar disso não vou fingir que não tenho pensamentos tristes, que não sinto saudade, ou que estou sempre alegre, ou que sou feliz. 
Nos momentos em que a tristeza me invade, aceito-a e respeito esses sentimentos e essas emoções. Ao fim de pouco tempo, sinto que passaram e dentro de mim reina uma imensa paz. 
Nos momentos em que acordo e sinto aquela velha sensação de que dentro de peito um novelo gigante se enrola, fico a senti-lo dar a volta e a pouco e pouco deixo de o sentir... e a serenidade volta. Por vezes emociono-me e dou graças...
Para me ajudar a manter assim, neste paraíso de paz, tenho sempre à minha disposição a natureza com  a sua beleza ímpar.
Esta é a minha nova forma de vida. Viver cada momento, sem esperar que alguém venha trazer-me seja o que for que me vá preencher com o que quer que seja; dar o meu carinho e amor àqueles a quem amo e àqueles que dele precisarem e deixar fluir, sem correr atrás de nada nem de ninguém, mas tomando sempre as decisões que o coração me ditar, com  a certeza que elas terão sucesso.

Janeiras

Tanto no Cercal, como em Colos há uma repetição dos versos que eram cantados pelas Janeiras.
Vou deixar aqui alguns exemplos, embora a recolha ainda não tenha terminado. A ordem pode não ser esta, mas foi assim que as lembranças foram surgindo...

Venho dar os bons anos
já que as boas festas não pude.
Venho ver estes senhores,
como passam de saúde.

Senhora dona de casa
deixe-se estar, que está bem,
mande dar a esmola,
pela rosa que aí tem. (Dizem que a rosa , era a criada)

Vou-lhe cantar mais esta,
em louvor de S. Alberto,
mande-nos dar a esmola,
que o saco já está aberto.

Ainda lhe canto mais esta,
em louvor de S. Mateus,
a esmola que nos deram,
seja pelo amor de Deus.

Fiquem os senhores com Deus
que eu com Deus me vou embora,
Lá nos encontraremos
no reino da glória.

Lembranças do Ano Novo e Janeiras

Segundo as "minhas meninas" não havia grandes comemorações pelo Ano Novo, apenas tinham o hábito, em algumas casas, de à meia noite baterem tampas de tachos velhos em casa e à porta. Havia também rapazes e raparigas que saíam em grupo a cantar as Janeiras.
Esta tradição do cantar das Janeiras tinha lugar depois do Natal e na véspera de Ano Novo. 
Segundo a D. Maria Antónia, do Cercal, faziam-no para se divertirem, nem era pelo que as pessoas davam. 
Conta esta amiga que se juntavam alguns rapazes e raparigas e saíam à rua a cantar, parando em casa de algumas pessoas, normalmente das mais abastadas.
Costumavam receber bolos, linguiças, chouriços, batatas doces... 
Em algumas casas, mandavam-nos entrar e serviam-lhes café, pastéis e fritos. 
Também me contaram que havia quem enchesse chouriços com farelos e lhes desse. Quando davam por isso, voltavam atrás e cantavam a essa pessoa usando expressões pouco lisonjeiras... 
Havia quem, embora tivesse posses, não lhes desse nada e eles também não os poupavam com os seus cantares...
A D. Custódia contou que quando era nova e estava a servir em casa de uns senhores, ela e a outra criada cantaram as Janeiras aos patrões e ganharam cada uma cinco escudos. Ficaram muito contentes, porque naquela altura era uma boa gratificação.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

De regresso ao tricô

Voltei a tricotar!
Já tenho mais uma mantinha feita, que não sei para quem será...
Estreei-me também a fazer uns gorros. Já vou no 4º exemplar...


Possivelmente estes vão ser para o Diogo...


sábado, 15 de dezembro de 2012

Festa de Natal no Lar de Colos

O Lar de Colos está lindamente decorado a lembrar a época natalícia!










Na passada quarta feira, realizou-se nesta instituição, a Festa de Natal.
Nela  participaram 2 turmas de crianças do 1ºciclo que recitaram poesias, lengalengas e trava-línguas, propuseram adivinhas e entoaram canções. Cada turma trazia uma lembrança para oferecer aos utentes. Também estes tinham feito 2 lembranças para oferecer a cada uma das turmas. 
Houve ainda um momento de grande animação com a atuação de um grupo de cantares.
No final foi passado um pequeno filme feito a partir de reportagens fotográficas, de atividades que têm vindo a ser desenvolvidas no Lar. 
Enquanto estas atividades decorriam teve lugar um lanche convívio com doces típicos desta data festiva. 
Foi uma tarde muito animada! Ainda estreei os meus dotes de dançarina, meio enferrujada, com uma das "minhas meninas"! :)










quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lidar com o Corpo de Dor

Hoje tive a oportunidade de lidar com o meu corpo de dor. Este é desencadeado sempre que alguma coisa me faz lembrar dores de situações de vida que vivenciei no passado.
Hoje passei por uma prova de fogo, mas tive uma oportunidade para testar que, de alguma forma,  já consigo pôr em prática aquilo que os livros me têm ensinado. 
Ontem, olhando dentro de mim, observei o medo a crescer, por ir presenciar uma situação dolorosa, idêntica à que eu tinha vivenciado há anos. Ver alguém próximo a passar pela mesma dor, só podia desencadear o meu corpo de dor e avivar o meu sofrimento. Tive a tentação de me proteger e manter-me distante. Porém ao pensar nos gestos de carinho e apoio que tantas vezes recebi desta amiga, achei que não seria justo deixá-la sem o meu abraço. 
Meditei, mantive-me alerta em relação às emoções e vi que a dor que sentia era mais a minha dor, aquela já bem antiga.
Repeti várias vezes: Luísa, Agora está tudo bem! Já tudo passou há muito tempo! Já aceitaste o que passou, já alcançaste a paz e o teu amor também está em paz, do outro lado da vida. Podes estar triste e até podes chorar de tristeza pelo que aconteceu, mas não é contigo, não és tu. Tu estás bem e estás protegida! 
Ao sentir-se observado, o corpo de dor acabou por desaparecer e eu pude usar essa energia para ganhar coragem e estar presente.
Hoje, apesar de triste e do coração se apertar de vez em quando, consegui serenar e sempre que o quadro da minha dor surgia diante de mim, fechava os olhos, respirava fundo, sentia a energia dentro de mim e em pensamento enviava-a àqueles que estavam em sofrimento, para que a força se lhes regenerasse, de modo que  pudessem suportar tão violento sofrimento e tamanha dor!
Àquele que partiu, formulava o desejo de que a sua viagem fosse suave e que no reino que o esperava reinasse a paz.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Etapas

A vida é feita de etapas! Há etapas constituídas por situações de vida melhores, outras por situações piores e outras por situações péssimas.
Se fóssemos todos muito inteligentes, devíamos tentar fazer perdurar as etapas em que as situações de vida são boas, que nos fazem andar alegres e felizes... 
Contra mim falo, porque durante muito tempo deixei de saborear estas etapas boas, deixando-me angustiar com o que porventura estaria para vir, ou simplesmente com medo que elas acabassem... 
Pelo contrário as etapas em que a situação de vida é má, fazemo-las perdurar no tempo, esticando o período de sofrimento, muitas vezes bem para além das nossas forças psicológicas. 
Porquê? Por acaso julgaremos que não merecemos ser felizes? 
Também há quem queira saltar etapas e fingir que está tudo bem. Não se pode saltar do péssimo para o bom. Não se pode saltar do estado de desespero, para o estado de êxtase! Não se pode esquecer ou apagar da memória o que de mau vivemos.
Muitas vezes as pessoas dizem-nos : vá lá esquece isso, já passou tanto tempo... 
Não se pode nem deve esquecer, mas sim aceitar que aconteceu e seguir para a etapa seguinte que é aceiatr também que nada será igual dali para diante... Depois aceitar a nossa nova condição, aprender a viver com ela e aprender a gostar dela... Só depois poderemos estar prontos para novos desafios, novas conquistas, novas formas de viver... 
Será assim, etapa a etapa, sem deixar nenhuma para trás, caso contrário arriscamo-nos a ter que recuar ao ponto de partida e ter que passar por tudo de novo, com mais dor, mais tristeza e mais sofrimento.
Esta foi uma lição que agradeço à vida!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lembranças da D. Maria Inácia

Havia tempo em Alvito
uma velha viúva e namoradeira.
A filha era modista
e a velha era lavadeira.
Essa velha lavadeira
era amante de um carreiro,
que era coxo da perna esquerda,
dentes não tinha o primeiro.
Até que a filha disse à mãe:
- Minha mãe quero-me casar!
Minha mãe tem um amante
e eu também quero experimentar.
- Sua porca, já no que pensa,
ainda é uma ranhosa.
Moça que se casa cedo,
da mocidade não goza.
Se o marido é rabujento,
passa a vida amargurosa.
- Minha mãe quando casou
 os doze anos faria,
mesmo nova como era,
já o bom não possuía.
Com 16 ainda está pura,
a sua filha Maria.
- Quando eu me casei com teu pai,
encontrou-me sem defeito.
Só tu dizes mal de mim,
deixa que eu logo te endireito.
- O meu pai quando casou,
devia minha mãe ter endireitado,
a toda a hora do dia,
chegar-lhe com um cajado.
Escusava depois de velho,
usar chapéu de veado.
- Esse chapéu de veado,
quem é que foi que o viu usar?
Ainda houve essa fama,
ninguém o pode jurar.
- Eu não juro, porque não vi
é porque me têm contado,
que esse que foi seu amante,
bastante se tem gabado.
- As cinzas do meu marido,
respeito eu eternamente
e esse que se tem gabado
quando mais se gaba, mais mente.
- Esse coxo desdentado,
o que vem ele aqui fazer?
Já cá está de casa e mesa
e mais não quero eu dizer.
- Desse sou eu lavadeira,
tem preciso de cá vir,
para pagar a lavagem,
 roupa lavada vestir
e tem lá na cavalariça,
uma esteira onde vai dormir.
- A esteira é uma desculpa,
para se livrarem da má fama.
Quando me sentindo deitada,
levanta-se da esteira
e vai para a cama.
E quando ele não vier logo,
mesmo a minha mãe o chama.
E à noite à roda do lar,
quando os dois se reuniam,
mesmo à vista da filha,
os beijos até choviam.
Já dela  se não escondiam.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Passagem de Ano

A noite da Passagem do Ano sempre me trouxe alguma nostálgia! 
Apoderava-se de mim um medo do desconhecido, esse medo que me subjugou durante quase toda a vida, o medo da perda.
Apesar disso guardo ternas recordações de muitas Passagens do Ano a dois, aquecidos pelo calor da lareira e pelo outro, talvez mais intenso, que nos aquecia os corações. 
Nunca me apetecia ter muita gente em redor, ir a festas... Bastava-me a lareira, os nossos petiscos preferidos e... nós dois.
A última Passagem de ano que estivemos lado a lado nesta dimensão, foi dolorosa! Ambos sabíamos que ia ser a última. Apesar disso eu dei graças apenas pelo facto de as nossas mãos ainda se poderem tocar e podermos envolver-nos num abraço! 
Foi mesmo a última... poucos dias depois chegou a hora daquela partida fora do tempo! 
Quando o calendário se gastou e nova Passagem do Ano chegou, eu recusei ficar acordada e saber que a dado momento iria começar outro ano. Para quê outro ano? Que me traria de novo? Ainda se ele levasse do meu peito aquela dor que me corroía as entranhas... ou se me levasse...
Nos anos que se lhe seguiram sempre quis ficar sozinha, mas quando chegava a hora, sentia sempre que não estava só. O ar ficava mais denso e eu tinha a nítida sensação de que alguém estava ali a meu lado. Aí entrava no mundo da fantasia e falava-lhe e do tanto que o conhecia, ficava a adivinhar-lhe as respostas. 
Há três anos que essa noite deixou de me trazer sofrimento. Embora sozinha, nunca me sinto só. Faço os petiscos habituais, arranjo-me e fico à lareira a ler, a ouvir música, a remexer em papéis amarelecidos pelo tempo, ou abro um a um os baús das recordações de outras noites como essa, em que as lembranças boas imperam e tanto viajo que quando me dou conta a hora de viragem do ano chega. Por vezes nem dou por isso, porque não tenho nada à mão que me indique as horas.
Desde sempre tenho tido quem não me queira deixar sozinha, mas já toda a gente sabe que esta é a forma em que me sentia mais confortável.
Este ano, pela primeira vez decidi deixar este meu "conforto" e abrir-me ao mundo. Decidi e logo senti como se o mundo no qual me abriguei durante estes anos, estivesse a desmoronar. 
No entanto, não desisti! Vou pôr em prática tudo aquilo que os livros me ensinaram. Vou aceitar esta luta que está a acontecer cá dentro, mas vou olhar lá bem no fundo, onde está a luz e a força e vou saber que Agora está tudo bem, embora esteja cada um no seu lugar. Agora o meu lugar é aqui e é aqui que tenho que ser feliz.
Agora o lugar dele é lá, do outro lado da vida e lá ele estará a percorrer o seu caminho.
Se nessa noite ele estiver livre e puder dar um olhinho cá para este lado, tenho a certeza que vai sorrir e vai dizer: Até que enfim Luisinha!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A Vida de Uma Lavradora

A D. Maria Guerreira, casou aos 25 anos e foi viver para o monte dos sogros.
Levantava-se cedo e era ela que ordenhava as cabras, as ovelhas e as vacas, sentada numa cadeira. Com o leite  fazia queijos e almece. O leite que sobrava, ia colocando numas embalagens grandes que tinham um produto e quando estavam cheios seguiam para Almodôvar. Diz a D. Maria que chegavam a levar 400 l. 
Também era ela que lavava toda a roupa. Ia para o poço com a roupa à cabeça e depois trazia-a molhada até ao monte onde a estendia. 
Como tinham muitos homens a trabalhar no monte, todos os dias precisava fazer pão. 
Quando vinha a altura da matança do porco, chegavam a matar 3 porcos no mesmo dia, alguns com 18 arrobas. 
Também era ela que sozinha fazia a comida para a família e para os criados. 
De manhã, ao almoço, costumava fazer sopas de toucinho. 
Ao meio dia, o jantar, podia ser jantares de couve, de legumes que tivessem na época, de feijão, grão...
A ceia podia ser papas com leite, almece, mel ou batatas doces; açorda; sopa de legumes ou pão com azeitonas ou queijo.
As roupas de vestir e de casa, como toalhas para a mesa, ou para se limparem, era  a D. Maria que fazia. À noite quando todos se deitavam, ela ficava levantada, talhava e alinhavava as roupas. No Inverno costumava trazer a máquina de costura para perto da lareira e enquanto todos dormiam, ficava a coser  até tarde. 
A D. Maria disse-me que ainda hoje usa roupa interior feita por ela.
Esta senhora devia ser uma mulher bem valente! Conta que tinha uma carrinha com uma égua e era ela que sozinha vinha das Fornalhas aviar-se a Colos e até a Alvalade. Conta que quando uma das filhas andava em Colos na escola, todos os dias vinha trazer comida e roupa. 
Apesar de ser lavradora, a D. Maria Guerreira, fartava-se de trabalhar.


Segunda Feira - Dia de Voluntariado

Ontem, como é habitual, parte da manhã foi passada no Centro de Dia, na aula de ginástica. Foi dia de levantamento do peso, só que os alteres foram substituídos por garrafas de água. As nossa meninas e o nosso atleta masculino, já não estão interessados em criar músculos. Estes exercícios ajudam a manter a massa muscular e a manter a capacidade de movimentos.
De início as garrafas eram apenas cheias até metade, mas há tempo que os exercícios são realizados com elas cheias de água.
Como sempre correu muito bem! 




De tarde em Colos também correu tudo muito bem! Antes de qualquer coisa, tive que lhes dar notícias do meu netinho e da minha filha e mostrar-lhes uma fotografia que tenho no telemóvel. É emocionante ver como muda a expressão delas ao verem a fotografia do bebé. Sorriem e muitas delas falam com ele, como se estivessem mesmo na sua  presença, dizendo aquelas coisas que normalmente dizemos aos bebés... Comoveu-me imenso ler-lhes a alegria no olhar e nos gestos. Até no 1ºandar, que as pessoas são bastante limitadas, mostrei-lhes a fotografia e o resultado ainda me surpreendeu mais. Há lá pessoas a quem nunca tinha ouvido a voz e que ao verem a imagem de um bebé, se manifestaram com alegria e com uma doçura... Incrível ... Emocionante mesmo!
Começámos por fazer 1 hora de Atividade Física, alternando os exercícios de pé e sentadas. Tornei a utilizar os bastões, fazendo exercícios variados. Até algumas meninas que não saiam do sofá, já quiseram juntar-se ao grupo, fazendo parte dos exercícios de pé e apenas se sentando quando estavam mais cansadas. 
Após esta atividade, li-lhes o conto tradicional "Março, Marçagão" e a fábula "O Corvo Sábio". Acharam graça aos dois e a D. Idália contou também um conto de que se lembrou por ser semelhante ao primeiro. Na mesma sequência estivemos ainda a recordar e recontar "Os dez anõezinhos da Tia Verde Água", que lhes tinha contado havia tempo.
Antes do lanche ainda houve tempo para treinar as lengalengas e os versinhos.
Após o intervalo, ensaiámos a moda alentejana " Lírio Roxo", que foi a escolhida para participarem na Festa de Natal das escolas. 
No final, foi tempo para algumas recolhas relacionadas com experiências de vida e para alguns versinhos que duas amigas quiseram recitar-nos. 
O Lar está bonito, todo a lembrar o Natal! Com o adiantado da hora, esqueci-me de fotografar, ficará para a próxima. 
Na entrada há uma árvore de Natal decorada com estrelas, contendo cada uma delas uma frase sobre o Natal, que cada um dos utentes ditou ou escreveu. Há também outra árvore onde quem faz parte do lar, ou quem o visita pode deixar uma mensagem natalícia. O refeitório também estava a ser decorado.


domingo, 2 de dezembro de 2012

Diogo, Meu Amor...

Há tempo que penso vir um dia a traduzir por palavras todos os sentimentos e todas as emoções que este novo estatuto despertou em mim - o estatuto de avó!
Tarefa bem complicada, até para mim, que tantas vezes me parece que não são os dedos das mãos que clicam nas teclas, que não é o pensamento que me dita as palavras. Muitas vezes sinto que há uma ligação direta do meu interior profundo com os meus dedos. A mente fica calada e as palavras vêm lá do fundo e os dedos apenas as reproduzem.
Mas para vos contar o que representa a presença do Diogo neste mundo, parece que o meu vocabulário não me basta.
Só vos digo que a primeira vez que o vi, tão pequenino, tão frágil, mas tão lindo, o meu coração quase explodiu de tanto amor que dele brotava. Era sem dúvida o verdadeiro amor, aquele em que apenas queremos dar de nós,sem esperar nada em troca. Quando lhe peguei, segurei-o como quem segura um tesouro, o seu bem mais precioso e nesses momentos em que o tive em meus braços, sentindo o seu cheio e o seu corpo quentinho, olhei-o e foi como se o visse por dentro, lá no fundo do seu ser e acreditei que ainda trazia com ele a sabedoria do outro lado, que ele ainda sabia qual a sua missão e que ele era o espelho vivo da alma inocente. Tinha nos meus braços o verdadeiro amor e a emoção falou mais alto e eu não consegui segurar a fonte da felicidade suprema.
Em silêncio, dei graças pela dádiva que me estava a ser concedida e desejei com toda a minha energia que a sua missão fosse leve e que para a cumprir ele pudesse sempre seguir por caminhos pouco acidentados, sob um céu descoberto sempre iluminado pela luz da alegria e da felicidade.
Há poucos dias voltei a estar com ele e a onda de sentimentos que me invade sempre que o olho ou que o pego em meus braços, é sempre avassaladora. Nesses momentos não há passado nem futuro, apenas o Agora. E nesse Agora ele, que de tão pequenino devia ser um príncipe, transforma-se num  Rei que preenche completamente todo o meu mundo, que me abre sorrisos emocionados e me faz deslizar lágrimas suaves. Quando pela primeira vez me abriu um leve sorriso, foi como se a última porta do meu interior profundo, que ainda se mantinha meio fechada, se abrisse de par em par e nesse momento, por alguns segundos deixei entrar o passado e sonhei com outras lágrimas emocionadas que fariam brilhar ainda mais um doce olhar cor de mel.
Sei que vou amá-lo para sempre, mas quero dedicar-lhe um amor sem apego, sem posse. Quero dedicar-lhe o verdadeiro amor, aquele em que basta dar, aquele em que se pode amar de longe com a mesma intensidade com que se o pudesse tocar e mimar.
Por isso sempre que olho a sua imagem ou  sempre que penso nele, as palavras  que se me escapam lábios fora são sempre as mesmas: Diogo, meu amor... :) 


Abençoada

Hoje mal acordei senti vontade de dar graças por mais um dia
 Senti-me impulsionada por uma onda de energia que me fez sair imediatamente da cama.
Mal abri a janela, deparei-me com a vida lá fora e enchendo o peito de ar e o olhar de luz, disse Bom Dia às maravilhas que estavam ali, diante dos meus olhos. 
Alguns momentos depois saí de casa e fui desfrutando das belezas que se me mostravam da estrada. Por fim parei e enquanto caminhava com os pés a enterrarem-se na areia, fui-me deixando encantar pela beleza e serenidade do rio que espelhava tudo aquilo que o circundava. Mais adiante esperava-me a beleza revolta do mar. Após longa caminhada parei e fiquei ali com o olhar perdido entre o céu e o mar, com as portas do pensamento bem fechadas. O meu olhar por vezes vagueava perseguindo os voos das gaivotas que dançavam serenamente pelos ares e encantado pela magia da vida, acompanhava todas as danças. Houve momentos em que me perdi naquelas viagens mágicas entre o céu e o mar e esqueci-me de mim, ou melhor dizendo deixei de me sentir à parte e senti-me una com tudo aquilo que me cercava. Houve momentos que me parecia que o céu tinha descido e que se eu levantasse os braços, as minhas mãos podiam entrar céu adentro...
Quando a consciência voltava, sentia-me abençoada por ter a capacidade de estar inteiramente presente naquele paraíso encantado.
Depois olhando dentro de mim e abrindo a porta às memórias, voltei a sentir-me abençoada e a achar a vida maravilhosa.
Só posso sentir-me abençoada, por tantos momentos felizes da minha vida passada, pela família linda que tenho, pelas amizades que fiz e continuo a fazer, pela capacidade de amar que nunca morreu em mim e que dia a dia se renova.
Só posso sentir-me abençoada por ter aprendido a aceitar-me, a amar-me,  a perdoar-me e a estar sempre disposta a melhorar e a fazer mais e melhor. 
Com estes pensamentos conscientes a aflorar-me a mente, com uma alegria desmedida a brotar-me do coração e de olhar iluminado pela luz do sol e pela luz que se soltava da minha alma, não pude deixar de dizer : Agora está tudo bem, Luísa! Estás protegida e no teu mundo tens tudo o que precisas para ser Feliz!