terça-feira, 17 de maio de 2016

Mais um aniversário

Mais um aniversário que se completa!
Aceito-o de coração aberto, tal como aceito as rugas e os cabelos brancos que teimo em não esconder!
Já são 58! Felizmente que são 58, sinal que cá continuo...
Sinto-me grata e abençoada!
Há tempos que passei a ter outro olhar perante as situações de vida e isso fez com que essas mesmas situações passassem a ter um peso diferente.
Já lá vai o tempo que contava os dias de tristeza e lágrimas... de não ter braços e mãos que chegassem, ou melhor dizendo, asas para cuidar e proteger todos os que dependiam de mim... ou depois, por o chão me ter fugido e eu não encontrar terra firme para me apoiar...
Nesses tempos, achava que a Vida estava a ser tão dura comigo... Só olhava ao que me faltava e esquecia-me daquilo que tinha, ou já tinha tido...
Hoje é tudo tão diferente que, apesar de não esquecer as situações duras e difíceis que surgiram no meu caminho, sinto-me abençoada.
Sinto que tive Muito, em comparação com tantas pessoas.
Por isso hoje, já não olho aos dias que chorei, mas aos motivos que me abriram a torneira da dor. 
Do outro lado, vejo os motivos que me abriram sorrisos e fizeram o meu coração bater de alegria e felicidade...
Pesando na balança, vejo que as razões que me fizeram sentir feliz, ultrapassaram de longe, as que me fizeram sentir dor e sofrimento.
Olhando assim o meu percurso pelo passado, só posso estar Grata, imensamente Grata!
Hoje vivo de momentos, dia a dia, sem exigir nada e aceitando aquilo que me quiserem dar.... a companhia que me quiserem fazer, durante o tempo que for permitido...
Sei que nada é para sempre e que a qualquer momento podemos deixar de ter aquilo de que tanto gostamos...
Talvez para me proteger, evito apegar-me exageradamente, como antes...
Vivo a felicidade dos momentos e felizmente os momentos felizes têm predominado...
Adoro estar com quem amo... com quem me sinto bem... com quem dedico amizade, com quem posso ajudar, porque o meu lado de cuidadora está sempre em alerta. 
Porém gosto de um tempo comigo mesma, como se não quisesse desabituar-me, não vá a Vida pregar-me outra partida...
Hoje ser Feliz fica mais fácil! Basta que aqueles que amo tenham saúde e estejam bem!
Para mim, apenas preciso de Paz, sabedoria e paciência para contornar as situações menos fáceis e capacidade para aceitar aquilo que não posso mudar.
De resto tenho até mais do que qualquer ser humano precisa...
Por tudo isto, além destes 58, que venham aqueles que tiverem que vir e que os motivos para sorrir predominem, sinal de que tudo está bem no meu mundo e dentro de mim!





sábado, 14 de maio de 2016

O Meu Primeiro Grande Sonho - Ser Professora

Foi aqui que nasceu o meu primeiro Grande Sonho - o de ser professora!
Desde muito cedo ajudei a minha mãe na limpeza desta escola. O grau de trabalho a realizar foi aumentando equitativamente com o meu nível de crescimento.
Sempre que terminava as tarefas, sentava-me à secretária e deixava o Sonho à solta...
Às vezes colocava pedras dentro dos sapatos, para me sentir mais senhora...
Algumas vezes eriçava o cabelo, para criar volume e imitar os penteados dos anos 60... Claro que no dia seguinte havia choro para me pentear...
Mas era tão bom viver aquele Sonho... 
O Sonho cresceu e deixou de caber nas paredes da escola e nos tempos livres que as tarefas me deixavam...
Também sonhava no quintal, usando as paredes como quadro e as plantas como alunos...
Claro que a escrita com pedras e carvão, dava sempre origem a coisas menos agradáveis...
Mas eu adorava aquela brincadeira que tornava mais real aquele Sonho...
Julgava-o distante... talvez até impossível, mas queria tanto....
Com muito sacrifício os meus pais ajudaram-me a concretizá-lo e eu foquei-me por completo na sua realização, contentando-me em ter apenas aquilo que me era estritamente necessário...
Quando me desculpava perante algumas colegas por não poder acompanhá-las a algum divertimento, não ficava triste. Olhava para a frente e via-me feliz, com o meu Sonho realizado.
Quando o consegui, senti-me imensamente Feliz e Grata!
Logo nessa altura fiz como que um juramento a que procurei não faltar ao longo de toda a minha carreira:
- Nunca permitir que na minha sala nenhuma criança fosse magoada e humilhada pelos colegas
- Não magoar ou humilhar qualquer criança
- Nunca desistir de nenhum deles do primeiro ao último dia
-Incentivá-los a ir mais além, respeitando o ritmo de cada um
- Dar-lhes educação e instrução misturadas com uma boa dose de carinho
Quis assim não deixar cometer, nem cometer erros a que assisti ou de que fui vítima...
Claro que não fui perfeita, mas nunca deixei de ser crítica em relação ao meu trabalho e à medida que me dava conta dos meus erros, tentava remediá-los.
Foi assim que  nesta escola tudo começou e por coincidência ou não, foi aqui também que concluí a minha carreira como professora titular de uma turma.
Posso dizer que não sinto propriamente saudades. Sei que foi um ciclo que se fechou e felizmente saí dele quando ainda podia fazer um trabalho de qualidade.
O que sinto é uma grande alegria por ter tido o privilégio de viver o Meu Sonho e de ter tido tantos "filhos" ao longo de tantos anos... "Filhos" esses que ao oferecerem-me um sorriso na  rua, ou dando-me notícias pelas redes sociais, deixam-me um gostinho doce no coração...


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Baú das memórias

Quando se aproxima mais um aniversário de vida, sinto vontade de mergulhar no tal baú, onde guardo caixas e caixinhas...
Hoje felizmente, já consigo deitar a mão e tirar aquelas que desejo rever, sem que as outras se desorganizem e me deixem também desorganizada.
Hoje já as consigo abrir todas e até naquelas em que só encontrava motivos para lágrimas, hoje já encontro razões para sorrisos...
Começo sempre por lembrar o meu atribulado começo, aquele que muita gente acreditou que seria muito próximo do fim...
Já deixei de ter pena de mim porque a minha mãe esteve impedida de me cuidar nos primeiros tempos de vida e ninguém da família teve condições para o fazer.
Tinha tanta piedade daquela criança, quando me contavam que tinha ficado até aos quase aos 4 meses numa instituição, onde não era alimentada nem cuidada e de onde veio com a sentença de morte anunciada, só pele e osso... uns olhos enormes que queriam ver o mundo... e certamente um coraçãozinho cheio de medo a querer carinho e conforto...
Cheguei a chorar, quase me esquecendo que era de mim que se falava... 
Hoje ao invés dessa tristeza e mágoa, sinto uma felicidade imensa, porque essa criança resistiu e ficou por cá...
Isto faz-me acreditar em diversas coisas... 
Acredito que só acontece aquilo que tem que acontecer... Acredito que enquanto não cumprimos a missão que cá nos trouxe, não partimos de novo... Acredito que temos dentro de nós a força suficiente para vencer as dificuldades que nos surgem pelo caminho...
A minha mãezinha contava que Deus a tinha ouvido em suas preces e a tinha curado a tempo de me salvar... Chegava a falar em Milagre... 
Eu acredito que se temos que continuar, as forças do Universo virão até nós quando as nossas atingirem o limite ... 
Claro que não parti! Claro que resisti, ganhei força  e cresci, magrinha, mas forte, saudável... Feliz!
Recordo que sempre fui condoída... Ficava triste quando olhava para os pés descalços dos pedintes e muito contente quando a minha mãe ou avó, lhes davam alguma coisa do pouco que também nós tínhamos...
Lembro-me de uma vez me descalçar, andar descalça na rua para saber o que sentiam essas pessoas  e ficar ainda mais triste... 
Entristecia-me de na escola onde a minha mãe trabalhava, haver meninos que andavam descalços... Lembro-me que sentia uma dor por dentro e sorria para eles... Como se o meu sorriso de alguma forma atenuasse aquela dor que eu já tinha sentido nos meus próprios pés...
Corria, contrariando a vontade da minha avó, a beijar as crianças que passavam, algumas mesmo sujas e cheias de ranho... Para mim eram lindas... eram crianças... 
No estado de inocência, somos sábios... só vemos o lado de dentro... 
Tenho lembranças de tenra idade, da primeira casinha onde morei até aos 5 anos, das brincadeiras que lá fazia, de ser destemida e curiosa...
Quando passo por esta casinha, hoje já melhorada em relação aquele tempo, fico sempre uns instantes a observá-la e o meu coração enternece-se ... 
Recordo ainda a primeira boneca de trapos que a minha avó me fez... a bem dizer, não me lembro de como era, recordo mais a alegria que senti nesse dia e sempre que brincava com ela...
Brincava mais tempo sozinha, fantasiando um mundo só meu, onde era imensamente feliz, porque tinha tudo aquilo que precisava...