segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A minha Avozinha

A minha avozinha, foi a primeira pessoa que perdi!
Era-me muito próxima, porque ajudou a cuidar de mim desde que pude desfrutar do conforto de um verdadeiro lar.
Guardo dela imensas recordações desde tenra idade!
Lembro as vezes que lhe fugia para brincar fora do seu raio de acção. De como gostava de a ouvir contar histórias e relatos da sua adolescência, quando "servia" em Lisboa, em casa de senhores ricos, "no tempo dos reis"....
Só não gostava quando tinha que dormir na sua casa, porque tinha medo de a ver com o lenço branco que colocava na cabeça quando se deitava... 
Ainda tenho presente o quadro que tinha sobre a cabeceira, os frascos com plantas que pendiam pelas paredes ... e o gosto das papas de farinha de milho... o feijão com arroz e umas lulas recheadas que fazia  com quase nada e que ainda hoje sinto o cheiro e a saliva cresce-me na boca, só de lembrar o sabor....
A minha avó era uma mulher de personalidade muito forte, como se costuma dizer "tinha pelo na venta".
Não era fácil de lidar, mas eu adorava-a e comigo normalmente era dócil.
Nos seus melhores relatos, contava que, quando era nova, tinha ficado a viver em Odemira com os primeiros filhos e o marido viera para o Cercal em trabalho. Não sei como, mas constou-lhe que o meu avô andava por cá numa aventuras amorosas. Então não teve com meia medidas. Alugou uma carroça, juntou os poucos pertences e meteu-se a caminho com os filhos, rumo ao Cercal. 
Cá chegada, exigiu ao marido que arranjasse uma casa para aqui ficar e o meu avô teve que lhe fazer a vontade, acabando-se assim as aventuras fora de portas.... 
Acho que lhe herdei um pouco a garra e a determinação ou teimosia.... 
Partiu tinha eu 16 anos e na véspera da sua partida, num momento de estranha consciência e aparente lucidez, transmitiu-me uma mensagem intensa, acerca de um assunto de que não tinha conhecimento. 
Foi como se ela fosse apenas o veículo e a mensagem viesse do além... 
Essa mensagem foi determinante para a tomada de uma grande decisão, que envolveu todo o meu percurso de vida. 
Maria Emília Amaro, era a minha avozinha, que partiu com mais de 90 anos....
Esteja onde estiver, do lado de lá, ou novamente do lado de cá, que o seu espírito esteja iluminado!
(No seu tempo de mocidade. Datada de 1902)
(Como a conheci. Ao lado o meu avô, que nunca cheguei a conhecer.)




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