quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A minha Mãe

Também num Dezembro, partiu a minha mãezinha! Daqui a poucos dias faz 14 anos!
A "menina" Maria Emília, auxiliar de limpeza da escola da Rua da Bica Santa.... ex-escola masculina....
São de lá as minhas primeiras lembranças...
A minha mãe contava que por milagre havia curado a tuberculose óssea para ter alta a tempo de me salvar...
Quem sabe não teria razão!
Nada é por acaso e eu tinha uma missão a cumprir, teria que ficar por cá.
Foi sem dúvida a minha melhor amiga nos tempos de adolescência. Era a ela que contava os meus sonhos, o desgosto da minha primeira paixão platónica, as mágoas que deixava que me atingissem, os efeitos da minha auto-estima quase nula...
Foi minha aliada quando a Vida me trouxe o meu primeiro verdadeiro amor. Protegeu-me e ficou do meu lado, quando fui obrigada a fazer a escolha que o meu coração ditava.
Trabalhou muito mais tempo do que a sua saúde permitia, para que eu alcançasse o meu Grande sonho, que era também o dela: da sua filha não ter um trabalho tão pesado e ser mais respeitada do que ela o era muitas vezes.
Por tudo isto, fui-lhe eternamente grata e ofereci-lhe os melhores anos do meu tempo de vida.
Era tão doce, a minha mãe!
Porém os anos de debilidade e sofrimento pintaram-lhe o coração com tonalidades de amargura... 
Também hoje elevei o meu pensamento até ela, o que estranhamente não faço com a frequência que seria natural.
Questiono-me algumas vezes acerca da razão de tal facto e a única que encontro é que vivi durante anos em função dela, vendo o seu sofrimento, ora de uma forma extremamente resignada e depois meio alienada. Talvez por isso,  quando partiu, encerrei um capítulo que evito recordar... quem sabe por medo... Medo de me esperar um sofrimento idêntico...
Mas hoje reabri a caixa e fiquei a reviver tudo, com a serenidade que o distanciamento das coisas e a evolução trazem.
Mais uma vez lhe disse como a amava e como lamentava não a ter cuidado até ao último momento...
Pedi-lhe perdão, como sempre peço, pelos momentos em que o desespero me diminuía a  paciência e a capacidade de desempenhar tantos papéis ao mesmo tempo: ser filha a tempo quase inteiro, mas também ser esposa, mãe, profissional, dona de casa...
Acredito que esteja num lugar iluminado e tenha cumprido a missão que a trouxe cá. 
Abençoo-a por me ter trazido à vida ....


A minha mãe (de pé, à direita) no antigo Sanatório do Outão, onde esteve internada durante mais de 9 meses, entre os 3 meses de gravidez e os meus quase 4 meses de vida ). Durante esse tempo esteve impossibilitada de estar comigo, de cuidar de mim.

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