sábado, 20 de dezembro de 2014

Porque falo de mim

A primeira pessoa a incentivar-me a partilhar as minhas reflexões com outras pessoas foi o psicólogo com quem fiz psicoterapia.
Um dia falei-lhe que escrevia muito e ele pediu-me se podia partilhar com ele alguma coisa que tivesse escrito e nesse mesmo dia dei-lhe a ler um texto que levava comigo.
Noutras sessões levava quase sempre algum que achasse que retratava melhor o meu estado de espírito e o Dr. dizia-me sempre que eu tinha que partilhar de forma a ajudar outras pessoas que estivessem a passar por uma situação idêntica.
Algum tempo depois decidi criar o blog como esse propósito, o de partilhar abertamente situações que vivi, que ultrapassei, de abordar alguns assuntos que as pessoas não têm coragem de tocar, porque acham que só elas sentem e têm vergonha de se abrir sobre isso.
Nesta partilha incluí também as aprendizagens que fui fazendo nesta nova fase da vida.
Não falo de mim pelo facto de me querer expor, de desejar que me valorizem, ou que sintam piedade pelo período difícil a que sobrevivi.
Quando falo nele, e sei que falo muitas vezes, é como um sinal de esperança. Se eu consegui, qualquer outra pessoa também conseguirá.
Muita literatura me foi chegando às mãos que me fez ficar mais consciente e hoje sei que se nos focarmos em cada momento de vida, o sofrimento será com toda a certeza muito menor.
Podemos passar por situações menos fáceis, mas teremos sempre o céu para olhar, os pássaros para ouvir, a natureza para contemplar, outras pessoas para observar, música para ouvir, livros para ler e mil e uma formas de nos ocupar, não para esquecer a situação em causa, mas por sabermos que naquele momento nada podemos fazer para a resolver. Devemos reservar sempre um tempo para nós a cada dia, para não fazer nada, ficarmos simplesmente a sentir-nos por dentro, a ouvirmos a nossa intuição e a tomarmos consciência da existência da voz da mente, que muitas vezes nos martiriza.
Muitas vezes ainda entro num estado de ansiedade por uma ou outra coisa que se avizinha, mas cada vez mais cedo desperto e tomo consciência de que até ao momento em que isso irá acontecer, nada posso fazer nesse sentido, pelo que devo aproveitar o tempo a alimentar a alma com aquilo que me cerca e me faz sentir bem.
 Também já constatei que muitas das coisas com que já me amargurei, nunca sequer chegaram a acontecer. 
Se eu pudesse evitar, ninguém cometia os mesmos erros que já cometi, ninguém passava pelas dores que já passei e toda a gente descobria a fórmula mágica de evitar parte do sofrimento, porque ela é tão simples...
Basta que nos contentemos com as coisas mais simples, que aprendamos a observar e a apreciar aquilo que é realmente belo, que aprendamos a silenciar a mente e a escutar a voz da intuição e que conheçamos o verdadeiro amor, aquele que liberta, permite a tolerância, a compaixão, que não depende do retorno, porque esse retorno acaba por vir, embora possa chegar de forma diferente da que esperamos e de pessoas diferentes.
Grande parte das nossas dores advêm do nosso desejo em possuir coisas, em alcançar isto ou aquilo,  de gastarmos o precioso tempo que nos é concedido, saltitando entre o passado e o futuro e não saboreando o "agora" e principalmente por nos angustiarmos por as pessoas a quem damos amor não nos retribuírem da mesma forma...
É por julgar que poderei de alguma forma ajudar alguém, que eu continuo a falar de mim e a abrir aqui o meu coração ou talvez mais a minha alma...


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