quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Poesia - O Destino do Meu Monte

Mote

Está o monte abandonado
só encontro a solidão,
não há gente, não há gado,
faz doer o coração.

I
De manhã quando acordava
ouvia o galo a cantar,
ouvia o cão a ladrar,
avisando que alguém chegava.
Com os meus vizinhos brincava,
mas tudo isto é passado.
O galo já está calado,
alguma raposa o comeu.
O cão de velhice morreu,
está o monte abandonado.

II
Ainda pensei que voltava,
para ouvir os passarinhos,
para ver os vizinhos,
como quando lá morava,
a bola com que eu brincava,
para ver o meu pião,
mas tudo foi ilusão,
tudo isto se findou.
Agora já lá não vou,
tudo isto é solidão.

III
O mato já chega à porta,
só o que vejo é silvados,
vejo os campos abandonados,
não se sabe onde era a horta.
A sua lida está morta.
Ele foi abandonado,
já lhe voou o telhado,
já caíu a arramada,
já não serve para nada,
não há gente e não há gado.

IV
Havia perús, galinhas,
ninhadas de pintainhos
e para fazer os seus ninhos
nos beirais, as andorinhas.
Ouviam-se as avezinhas
desde a Primavera ao Verão
e ouvia-se o trigueirão
a cantar de bico aberto.
Hoje está tudo deserto,
faz doer o coração.           

Arminda  Maria Raposo - Aldeia do Cano


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