sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Sinais de Esperança

Durante alguns anos, quando o calendário ficava reduzido a uma folha e outro estava à espera para o substituir, o meu coração ficava ainda mais pequeno e a fonte de todas as dores, pelo contrário, aumentava de caudal. Eram dois meses em que nem sei como as forças bastavam para suportar tanta dor, tanta angústia, tanta revolta, tanta tristeza, tanta solidão e por fim, quando me sentia esvaída, restava-me a apatia, o sentir-me oca e o querer simplesmente dormir... se possível um sono eterno... 
Nada tinha significado! Nada estava inteiro! Nada podia ser igual... 
O Natal era a festa da família e deixara de o ser, porque a família tinha-se quebrado!
O Ano Novo representava um começo, que para mim, era apenas mais uma sequência de outros acordares e adormeceres de olhos  ardentes daquela dor que tinha criado lugar cativo dentro de mim.
Foram  anos em que levava os primeiros vinte e três dias de dezembro a preparar-me para representar o papel de pessoa tranquila, nos dois dias seguintes. Depois descia o pano, eu recolhia ao camarim e aí podia ser aquilo que o meu peito dilacerado permitia...
Nos dois primeiros anos, escondi tudo que me dissesse que o novo ano estava a começar, tomei todas as drogas possíveis e quando acordei, outro dia tinha nascido. Não tinha importância se já era do outro calendário que já estava à espera de ser pendurado, sabia que seria apenas mais um dia para eu continuar parada naquele caminho negro, frio e aterrador, onde me mantinha desde que o sol tinha desaparecido da minha vida. 
No terceiro ano, já me mantive acordada e para companhia naquela noite que para todos era de festa, escolhi remexer em papéis amarelecidos pelo tempo e a reviver outras noites como aquela em que a festa era feita de sabores, gestos e emoções. Nessa noite os olhos não ficaram secos, nem o coração serenou, mas já dava para medir a dor e a tristeza... Recordo-me que houve momentos em que quase podia jurar, não estava sozinha... 
Só a partir do quarto ano, consegui que esta noite a dor ficasse esquecida e embora sempre voltasse a ver os tais papéis amarelecidos pelo tempo e a revoltar o baú das memórias, as lágrimas que me desciam pelo rosto já não ardiam, já não queimavam nem a pele, nem o peito. Eram lágrimas doces, de uma saudade leve, que apesar de ser gigante, já não doía. Nestas noites tinha  a certeza, que ali, ao cantinho da lareira, embora de forma diferente, estava o meu companheiro de sempre, o maior amigo, o único e verdadeiro amor...
Passados que são sete natais e sete passagens de ano, este ano escolhi mudar o calendário longe do cantinho da minha lareira, longe dos papéis que o tempo foi amarelecendo...
Não sei como vai correr, porque comigo levarei o tal baú, aquele onde guardo todos os tesouros... 
Vai ser uma experiência, mas sei que será abençoada pelo céu e sei que se a qualquer momento, me vir tentada a abrir o baú, ao meu coração vai chegar uma mensagem das muitas que guardo em que ele me dizia: 
- Sai, diverte-te e aproveita a vida! 
Se nesse momento os meus olhos deixarem de ficar secos, será de emoção, por sentir que finalmente estamos os dois a caminhar e que a minha paz será sempre a dele. Vou olhar dentro de mim e dizer:
- Luísa, mereces alegria e bem-estar na tua vida...

Sem comentários: