quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Passagem de Ano

A noite da Passagem do Ano sempre me trouxe alguma nostálgia! 
Apoderava-se de mim um medo do desconhecido, esse medo que me subjugou durante quase toda a vida, o medo da perda.
Apesar disso guardo ternas recordações de muitas Passagens do Ano a dois, aquecidos pelo calor da lareira e pelo outro, talvez mais intenso, que nos aquecia os corações. 
Nunca me apetecia ter muita gente em redor, ir a festas... Bastava-me a lareira, os nossos petiscos preferidos e... nós dois.
A última Passagem de ano que estivemos lado a lado nesta dimensão, foi dolorosa! Ambos sabíamos que ia ser a última. Apesar disso eu dei graças apenas pelo facto de as nossas mãos ainda se poderem tocar e podermos envolver-nos num abraço! 
Foi mesmo a última... poucos dias depois chegou a hora daquela partida fora do tempo! 
Quando o calendário se gastou e nova Passagem do Ano chegou, eu recusei ficar acordada e saber que a dado momento iria começar outro ano. Para quê outro ano? Que me traria de novo? Ainda se ele levasse do meu peito aquela dor que me corroía as entranhas... ou se me levasse...
Nos anos que se lhe seguiram sempre quis ficar sozinha, mas quando chegava a hora, sentia sempre que não estava só. O ar ficava mais denso e eu tinha a nítida sensação de que alguém estava ali a meu lado. Aí entrava no mundo da fantasia e falava-lhe e do tanto que o conhecia, ficava a adivinhar-lhe as respostas. 
Há três anos que essa noite deixou de me trazer sofrimento. Embora sozinha, nunca me sinto só. Faço os petiscos habituais, arranjo-me e fico à lareira a ler, a ouvir música, a remexer em papéis amarelecidos pelo tempo, ou abro um a um os baús das recordações de outras noites como essa, em que as lembranças boas imperam e tanto viajo que quando me dou conta a hora de viragem do ano chega. Por vezes nem dou por isso, porque não tenho nada à mão que me indique as horas.
Desde sempre tenho tido quem não me queira deixar sozinha, mas já toda a gente sabe que esta é a forma em que me sentia mais confortável.
Este ano, pela primeira vez decidi deixar este meu "conforto" e abrir-me ao mundo. Decidi e logo senti como se o mundo no qual me abriguei durante estes anos, estivesse a desmoronar. 
No entanto, não desisti! Vou pôr em prática tudo aquilo que os livros me ensinaram. Vou aceitar esta luta que está a acontecer cá dentro, mas vou olhar lá bem no fundo, onde está a luz e a força e vou saber que Agora está tudo bem, embora esteja cada um no seu lugar. Agora o meu lugar é aqui e é aqui que tenho que ser feliz.
Agora o lugar dele é lá, do outro lado da vida e lá ele estará a percorrer o seu caminho.
Se nessa noite ele estiver livre e puder dar um olhinho cá para este lado, tenho a certeza que vai sorrir e vai dizer: Até que enfim Luisinha!

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