quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lembranças da D. Maria Inácia

Havia tempo em Alvito
uma velha viúva e namoradeira.
A filha era modista
e a velha era lavadeira.
Essa velha lavadeira
era amante de um carreiro,
que era coxo da perna esquerda,
dentes não tinha o primeiro.
Até que a filha disse à mãe:
- Minha mãe quero-me casar!
Minha mãe tem um amante
e eu também quero experimentar.
- Sua porca, já no que pensa,
ainda é uma ranhosa.
Moça que se casa cedo,
da mocidade não goza.
Se o marido é rabujento,
passa a vida amargurosa.
- Minha mãe quando casou
 os doze anos faria,
mesmo nova como era,
já o bom não possuía.
Com 16 ainda está pura,
a sua filha Maria.
- Quando eu me casei com teu pai,
encontrou-me sem defeito.
Só tu dizes mal de mim,
deixa que eu logo te endireito.
- O meu pai quando casou,
devia minha mãe ter endireitado,
a toda a hora do dia,
chegar-lhe com um cajado.
Escusava depois de velho,
usar chapéu de veado.
- Esse chapéu de veado,
quem é que foi que o viu usar?
Ainda houve essa fama,
ninguém o pode jurar.
- Eu não juro, porque não vi
é porque me têm contado,
que esse que foi seu amante,
bastante se tem gabado.
- As cinzas do meu marido,
respeito eu eternamente
e esse que se tem gabado
quando mais se gaba, mais mente.
- Esse coxo desdentado,
o que vem ele aqui fazer?
Já cá está de casa e mesa
e mais não quero eu dizer.
- Desse sou eu lavadeira,
tem preciso de cá vir,
para pagar a lavagem,
 roupa lavada vestir
e tem lá na cavalariça,
uma esteira onde vai dormir.
- A esteira é uma desculpa,
para se livrarem da má fama.
Quando me sentindo deitada,
levanta-se da esteira
e vai para a cama.
E quando ele não vier logo,
mesmo a minha mãe o chama.
E à noite à roda do lar,
quando os dois se reuniam,
mesmo à vista da filha,
os beijos até choviam.
Já dela  se não escondiam.


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