segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sonhar

Sempre me conheci uma sonhadora! Comecei a sonhar muito cedo! Já em criança sonhava para encher o vazio que me cercava. Ao sonhar inventava companhias com quem brincava e ficava tudo tão real, que apenas me faltava vê-las.
Quando alguma tarefa menos agradável me era destinada, mergulhava a fundo no mundo do sonho e da fantasia e realizava-a quase sem dar por isso. Enquanto o fazia, via-me princesa ou rainha ou então fada ou feiticeira, uma daquelas personagens mágicas das histórias que me costumavam contar.
Fui crescendo e a capacidade de sonhar, bem como a dimensão dos sonhos foram crescendo comigo.
Grande estava a ficar o meu pássaro do sonho! Cada vez voava mais alto! Então os sonhos de brincadeiras viraram sonhos de amor! Como eu sonhava...
E comecei a misturar tudo, o amor dos príncipes e das princesas com o das personagens dos romances que então lia... E sonhava, com um coração doce e puro que apenas queria encontrar o amor, que somente queria amar e ser amada. 
Era tão cedo! Mas aquele pássaro de asas longas e destemidas não me dava sossego. 
Um dia o meu coração sonhador, sedento de afeto, abriu-se talvez à mais nobre forma que o amor pode ter, no qual ele se traja de vestes de tonalidades delicadas e suaves, na sua forma de amizade.
E com palavras ditadas pela alma a pouco e pouco fui dando tudo aquilo que se ia libertando do âmago do meu interior profundo. Tudo aquilo que representa o verdadeiro amor, aquele em que apenas se quer dar. E dei! Durante meses e meses dei aquele amigo de quem desconhecia o tom de voz, o som do riso ou o brilho do olhar. Aquele amigo, a quem sentia uma alma gémea da minha. Aquele amigo, que tal como eu, se dava, abrindo-me um coração, que eu adivinhava puro e sonhador que nem o meu.
E ao mesmo tempo que dávamos de nós, o sonho ia crescendo imparável, neste meu coração sonhador. E eu, em silêncio, via-o crescer, fechando a sete chaves este segredo. Um dia, sem saber como, dei-me conta que as vestes de cores leves e suaves, haviam adquirido tonalidades fortes e brilhantes e aí o sonho escapuliu-se das minhas mãos! Estava grande demais e eu deixei de conseguir segurá-lo! Foi aí que a amizade virou o tal sentimento sublime, no qual cabem todos os outros. O tal que nos pinta estrelas no olhar, que nos agita o coração, nos faz tremer as pernas... O tal sentimento onde continua a caber a amizade e o companheirismo a que se junta tudo o que de nobre e puro pode libertar-se da alma de um ser humano e mais ainda da alma de um coração sonhador, como foi, é e será o meu, enquanto um sopro de vida e uma réstia de entendimento houver em mim.

Sem comentários: