quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Os Sonhos que a Saudade Traz

 Durante alguns anos, perdi a minha capacidade de sonhar! Vivia mergulhada numa dor profunda, que me impedia de entrar no mundo do sonho.
Por instinto de sobrevivência, criei um mundo de fantasia, onde amainava a minha dor e recuperava as minhas forças. Quando me embrenhava nele, sentia-me abençoada por um tempo de bonança. Nesses períodos, em que muitas vezes supus de demência, alimentava o amor dentro do peito e amava à distância! Tantas vezes imaginava as suas visitas, assim feito espirito e quase sentia a sua presença. Quase garantia que ele estava ali a meu lado e de forma emocionada, o sorriso misturava-se com as lágrimas. Muitas vezes falava-lhe e quando sentia que voltara a ficar só, enviava-lhe um beijo enamorado e agradecia-lhe a sua visita.
Foram anos assim, a ler folhas que o tempo tinha amarelecido, a escrever-lhe cartas e a dedicar-lhe textos que não materializava. Anos longe do sonho, mas perto da fantasia e da ilusão.
Quando este mundo deixou de me bastar, dei comigo a criar outro, em que misturava a fantasia com uma estranha forma de sonhar. E tão sedenta estava de sonhar e também tão destreinada estava de ter um sonho meu, que teci fantasias sem tino. Fantasias de querer voltar a ter quem sempre tive, de continuar a amar quem sempre amei! Queria tanto! Tanta era a saudade! Saudade que crescia imparável no meu coração, toldando-me o pensamento e deixando-me à mercê desta minha capacidade de sonhar que estava a renascer e que agora se misturava com aquele mundo de fantasia que eu havia criado, para me refugiar e sobreviver.
E desta forma sonhei, não que ele continuaria a visitar-me nos melhores e piores momentos, mas que, quem sabe, parte da sua alma se mantinha aqui, deste lado da vida, com outra forma, com outro rosto...
Sonho cego foi este, que me fazia olhar em volta a ver se o meu coração lhe descobria a alma. A certeza era tanta que eu juntava todo o  mar de sentimentos e tinha-os ali à mão, à espera que o milagre acontecesse.
Mas a magia acabou por quebrar-se e eu despertei desse sonho cego e sem sentido! Sonho que apenas a saudade podia ter plantado em meu peito! Sonho em que eu mergulhara, pelo tanto que lhe queria e pelo tanto que tinha para lhe dar.
Foi a minha alma sábia que um dia me chamou à razão e me fez apoiar os pés na terra e entender que ele partiu e que se uma parte ficou deste lado da vida, essa parte não terá outro rosto, nem outra forma. Essa parte que eu sei que não partiu, nem jamais partirá, terá eternamente lugar cativo no meu coração e no de todos que o amaram.
A partir deste momento, posso até ter regressado ao mundo da fantasia  e da ilusão. Posso até ter voltado a  procurar os tais papéis, agora ainda mais gastos pelo tempo, ou até ter voltado a escrever-lhe cartas que nunca irá ler. Que importa? Será demência? Não quero saber! Prefiro continuar a dedicar-lhe esta forma de amor, do que a outra, de sonhos cegos, impulsionados pela imensa saudade que sinto dele, do meu companheiro, daquele que é hoje o meu amigo do Céu e que continuará a proteger-me, bem como àqueles feitos de nós.

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