sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Como era o Exame da 4ª classe

A D. Preciosa conta com muito orgulho como foi o seu exame da 4ªclasse. 
Foi o único que fez, diz com algum ressentimento, porque a mãe não quis que ela fizesse o exame de admissão para poder continuar a estudar. A razão é que os irmãos nem tinham ido à escola. 
Então como morava em Colos, foi fazer o exame a Odemira. Foi num carro de parelha e ficou cinco dias numa pensão, para fazer a Prova Escrita e a Prova Oral. 
Conta que estreou um vestido creme, cujo feitio custou 30 escudos, o que era caro na época. Levou umas meias 101 (eram meias de seda, as melhores que havia) e uns sapatos de vernis. 
Na Prova Escrita, diz que apareceu lá o diretor e correu a sala a ver todas as provas e depois pegou na dela  e disse que era a letra mais bonita da sala. A D. Preciosa conta isto com um largo sorriso de orgulho. 
Na Prova Oral, diz que soube tudo, no livro, no quadro e ao mapa. Conta que tinham que saber muitas coisas. 
Certo que tenho uns aninhos a menos que a D. Preciosa, mas também me lembro do meu exame da 4ª classe. Lembro-me que também estreei um vestido que era azul com umas aplicações de flores brancas bordadas. Levei uns sapatos de vernis e umas peugas brancas. 
Recordo-me que a meio da Prova Escrita tínhamos que fazer durante um tempo, um trabalho de croché ou bordado. Já sabia fazer croché e a minha mãe começou-se um entremeio para um lençol para continuar durante a prova. Quando chegou a hora, estava muito calor e eu devia estar tão nervosa, que foi um desastre! Transpirei tanto que até a linha custava a correr e ficou tudo molhado. 
A Prova Oral correu bem. Recordo-me que a minha mãe foi assistir e quando acabei, vim ao pé dela perguntar "se tinha dito tudo bem". 
Ainda nesse tempo o programa era muito extenso. Tínhamos que aprender tudo sobre Portugal Continental, Insular e ainda sobre as antigas Províncias Ultramarinas. Saber os rios e afluentes, as serras, as linhas de caminho de ferro... sei lá, montes de coisas.
Ainda hoje me pergunto, como conseguíamos aprender tanta coisa? E as tabuadas? Aprendíamos e retínhamos a aprendizagem para o resto da vida.
Em relação às tabuadas e pela minha experiência profissional, nunca entendi a razão pela qual as crianças de hoje esquecem as tabuadas, depois de as terem decorado. Não falando daquelas que nem chegam a decorá-las... 

D. Preciosa Louzeiro tem 89 anos e encontra-se no Lar de Colos


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