domingo, 3 de março de 2013

História de Vida - I Parte

O Sr. Joaquim Silva actualmente a viver no Lar de Colos, tem o que se pode dizer uma história de vida bem recheada e diversificada!
É natural de Santa Luzia e vivia em Brunheiras, freguesia de Vila Nova de Milfontes. 
Filho de gente pobre, entrou para a escola com 8 anos e lá andou até aos 14. Apesar de ter frequentado a 4ºclasse, só em adulto fez o exame.
Aos 15 anos "ajustou-se" em casa de um lavrador, para trabalhar com uma parelha de mulas a ganhar 40$00 por mês e a comida. Conta que eram os companheiros que o ajudavam com a canga das bestas, porque ele quase não podia com ela.
No tempo da sementeira do trigo, levantava-se antes da manhã romper e por vezes quando chegava ao lugar do trabalho nem se via a charrua.
Ao meio-dia tinha 1h para comer e só deixava o trabalho quando se deixava de ver o rego, onde devia deitar as sementes. Regressava ao monte, que ficava a 1h de caminho e depois de tratar das bestas e de cear, ainda ia "enselefatar" trigo (segundo me explicaram, era passar o trigo por água e pôr a escorrer), ou ensacar adubo e quando se deitava era perto da meia-noite.
Neste trabalho fez 5 invernadas, de Outubro a Maio. De Verão ia fazer ceifas, debulhas, tiragem de cortiça, marcar árvores atrás dos tiradores. Quando chegava Outubro voltava a ajustar-se. 
Diz que nestes anos, esqueceu quase tudo o que tinha aprendido na escola, porque não escrevia nem lia. 
Em 1941 houve o ciclone e como caíram muitas árvores, havia muitos trabalhos, por isso mudou de patrão e de trabalho. Foi cerrar árvores com um serrote que era puxado por 2 homens , um de cada lado e carregar grandes paus às costas para fazer fornos, onde se fazia carvão. Diz que era um trabalho muito duro e a jorna era de 10$00 por dia. Os trabalhadores dormiam numa cabana feita com paus e pastos e coberta com uma camada de terra para vedar a água. Diz o Sr. Joaquim que o pior era a companhia das pulgas, que como também não se queriam molhar, metiam-se na cabana e não os deixavam dormir.
Mas este senhor, ambicionava um futuro melhor e fez um requerimento para a Direcção de Estradas. Foi chamado, primeiro para Auxiliar de Cantoneiro e no ano seguinte passou a Cantoneiro do Quadro com o ordenado de 240$00 mensais ilíquidos.  Esta foi a sua profissão durante 40 anos. 
Mas a vida deste amigo tem ainda coisas bem interessantes para contar... que ficarão para depois...


Devo acrescentar que é com autorização do Sr. Joaquim que publico a sua história de vida, bem como publicarei algumas das sua poesias. 
Terei também todo o prazer em que os seus familiares acompanhem estas publicações que serão uma homenagem a uma pessoa especial, que não cruzou os braços e tentou sempre chegar mais além para melhorar a sua vida e também a vida de muitas outras pessoas, como poderão constatar oportunamente.

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