sábado, 24 de novembro de 2012

Natal de antigamente

Tenho andado a recolher testemunhos acerca do Natal do tempo em que as "minhas meninas" eram meninas de verdade.
A véspera de Natal só era festejada pelas famílias com mais recursos. Aí juntavam a família mais alargada ao serão à volta da lareira. Cantavam as cantigas que sabiam, tocavam realejo, jogavam às cartas e comiam bolos de rolão que levavam azeite e açúcar amarelo, ou brandeiros com azeite e açúcar,  ou "enxovalhadas" que era pão com azeite, açúcar e canela e mais tarde começaram a fazer filhós e fritos.
Nas famílias muito pobres, o Dia de Natal era o único no ano em que comiam fatias de ovos e café com um bocadinho de leite, quando se levantavam. Para o jantar (agora almoço), costumavam comprar um bocadinho de cachola, que era o mais barato que havia, e faziam com batatas e dava para todo o dia.
Já nas famílias mais "remediadas", matava-se sempre uma galinha, ou galo, ou coelho, para comerem no dia de Natal e no dia seguinte. Considerando que a maior parte das famílias eram numerosas, vejam lá que porção de carne correspondia a cada um!
 Na manhã de Natal bebiam café com leite, comiam fatias de ovos e "carne de vinha d'alhos". Mesmo que não matassem porco, costumavam comprar um bocadinho de carne magra e outro gorda e comiam umas "talhadinhas". Algumas famílias compravam também peles de porco, orelha e carne de ossos.
Era hábito também, nestas famílias, como nas "abastadas", fazerem várias qualidades de comida no Dia de Natal. Faziam "jantares" de couve e de grãos com carne e ensopado de galo ou galinha, ou arroz com carne...
No dia seguinte não faziam comida, comiam os restos. 
Perguntei-lhes sobre o vestuário. A maioria vestia a melhor roupa que tinha, que tanto dava para verão, como para inverno e calçava os sapatos melhores. Algumas contaram que costumavam estrear um vestidinho de chita e apenas uma amiga contou que era hábito estrear roupa nova, de tecido mais quente e tinha um casaco comprido. 
Relativamente aos presentes, praticamente não havia, só em poucos casos foram referidos alguns rebuçadinhos no sapatinho.
Na altura era até habitual, os irmãos mais velhos e até em alguns casos o próprio pai, pregarem partidas aos mais pequenos, colocando nos sapatinhos coisas pouco próprias e mal cheirosas, como excrementos de burro. 
Assim era o Natal de antigamente, em que o mais importante era a comidinha na mesa e uns rebuçadinhos no sapatinho era o suficiente para encher de alegria qualquer criança...


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