sábado, 1 de setembro de 2012

O Mar


Há muito que tenho uma relação especial com o Mar. Noutros tempos, quando as forças ameaçavam faltar-me, tinha umas mãos que me levavam até ele  e eu deixava-me levar, muitas vezes quase sem disso me dar conta.
Quando lá chegávamos, as palavras ficavam esquecidas! Restavam as mãos, os braços e o Mar, e o silêncio que ficava para além do som das suas vagas, do murmúrio com o qual falava comigo, contagiando-me com o seu vigor e sacudindo o ar, que por sua vez me abanava, obrigando-me a sair do torpor no qual mergulhara. Eu olhava-o e à medida que o seu aroma me ia penetrando corpo a dentro, a respiração ficava mais tranquila e eu serenava e estava pronta para voltar às lutas de antes.
Quando perdi as mãos que sempre me conduziam ao mar, fiquei muito tempo sem o querer ver, talvez mais, sem o poder ver.
Um dia rebusquei dentro de mim os resquícios de coragem que ainda aí subsistiam e fui, fui ter com ele, com o Mar! Fui sozinha e quando o consegui encarar, mesmo de longe, apenas uma frase aflorou os meus lábios, frase essa que lhe repeti vezes sem conta: Porquê? 
O seu aroma foi anestesiando a minha dor, as suas ondas pareceram-me ficar mais suaves e ele falou-me. E respondeu-me dizendo-me que  a vida era como as suas marés, que levam umas coisas e trazem outras. Que raramente trazem aquilo que levam e quando trazem, já nada é igual. Ele contou-me que muitas das coisas que leva, vão ter a outras praias e outras vão até ao fundo e ficam lá eternamente. 
Assim são aqueles que partem das nossas vidas, uns partem para outros braços, para outras paragens, mas outros têm um caminho mais longo a percorrer, aquele que os leva para o outro lado da vida.
Hoje o Mar é o meu amigo, o meu confidente, o meu anestésico, o meu bálsamo e até posso dizer que ele representa o meu elixir da vida. 
Quando a amargura, a ansiedade e a angústia me tomam de assalto, eu corro para ele e se começo a fazer-lhe a pergunta antiga, a tal dos porquês, ele volta a dar-me também a resposta antiga, a tal das marés.


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