Cerca de três anos e meio após a perda iniciei um ciclo de psicoterapia. Confesso-vos que o fiz sem esperança, mais para que houvesse menos um motivo para me aborrecerem, ao dizerem que eu não queria recuperar.
Na primeira consulta abri-me sem esforço, ou porque senti empatia com o psicólogo, ou porque senti que finalmente encontrara alguém que me deixava falar sem me dizer para mudarmos de assunto, que me deixava chorar sem dizer que já chegava e que não me acusava por ainda estar a sofrer, como quase toda a gente, que sempre me dizia que já tinha passado muito tempo. Por isso aceitei voltar e iniciar um período de sessões.
Se foi fácil? Não, nada fácil ou devo dizer até muito difícil! E difícil em várias fases.
De início foi muito doloroso! Tratava-se de remexer em tudo, de fazer abrir cada ferida que apenas fechara por fora, mas por dentro continuava em carne viva. Sentia o peito pisado como se tivesse sido atropelada por algo gigantesco. Podia ter rareado as sessões, não ir semanalmente, mas estava a ser tão duro "desarrumar a casa", que eu queria despachar-me depressa. Afinal já havia muito que tratava o sofrimento por tu!
Depois veio a segunda fase em que passei a ir duas vezes por mês e essa não foi menos difícil, pelo contrário. Foi nessa que diversas vezes fui tentada a desistir. Achava que andava em círculos, acabando sempre por ir parar ao mesmo sítio. Achava que estava sempre tudo na mesma. Várias vezes saía do gabinete e pensava: O que vim aqui fazer hoje? Não volto mais!
Quando chegava à recepção, acabava por marcar nova sessão, mais por descargo de consciência,pensando que um ou dois dias antes talvez desmarcasse. Cheguei a dizer ao psicólogo que já me sentia mal de estar sempre a dar-lhe as mesmas respostas e de não sair do mesmo sítio. Que o estava a cansar e que talvez não houvesse solução para mim!
Com muita paciência acabei por continuar e a pouco e pouco "os móveis foram entrando nos compartimentos e as caixas, nas gavetas". Não sei como, mas conseguimos! Sim, tenho que falar no plural, porque ainda hoje estou agradecida ao Dr. Acácio Santos, pela paciência e pelo trabalho que desenvolveu comigo.
Ele ajudou-me a voltar à vida, a perdoar-me, a perdoar o meu companheiro e até outras pessoas de quem guardava mágoas, a sentir vontade de continuar a viver e a ambicionar reencontrar a felicidade, mesmo que de um modo diferente. Também me sinto orgulhosa de ter resistido à tentação de desistir e ter levado a terapia até ao fim.
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