Como na Terça-Feira da semana passada, o tempo estava mau, propus às minhas meninas de Colos, falarmos dos dias de Inverno, no tempo da sua mocidade.
Contaram-me que era o tempo da apanha da azeitona, iam á púcara e à bolota, iam buscar lenha que traziam em feixes à cabeça e apanhavam pardelhas nos regatos, que depois fritavam.
Dizem que naquele tempo qualquer regato, por pequeno que fosse, tinha muitas pardelhas. Metiam uma saca aberta dentro de água e tiravam-na cheia de pardelhas.
Em relação aos regatos dizem que era hábito beberem dessa água quando tinham sede, no entanto antes de beber, benziam a água com a seguinte oração:
Nossa Senhora por aqui passou, com um martelinho na mão, para matar todo o bichinho que faça mal ao coração.
Depois de benzida, bebiam a água descansados.
Com as bolotas que apanhavam, faziam "enfieiras" e depois comiam-nas cruas, cozidas numa panela de barro ou assadas no lume ao serão.
Falaram muito no "respeito" que tinham pelas trovoadas e de algumas pessoas que conheceram que morreram no campo queimadas pelos raios que caíam sobre as árvores e de algumas vacas mortas.
Dizem que às ovelhas não acontecia nada, porque a lã as protegia.
Contam que as trovoadas chegavam a durar 1 ou 2 horas. Costumavam tapar todos os metais de casa com mantas de lã (ferros da cama, lavatórios) e até as pessoas costumavam embrulhar-se em mantas de lã. Nessas alturas também não faziam fogo, porque diziam que o fogo atraía o fogo. Chegavam até a apagar os candeeiros e ficar às escuras.
Nesses dias de muita chuva e trovoada, só quem guardava gado, ia trabalhar.
Durante a trovoada costumavam dizer orações e cantar o "Bendito Louvado".
Bendito Louvado
Bendito Louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia. É do fruto e é do ventre sagrado e é da Virgem puríssima, Mãe Santa Maria.
Oração da Trovoada
Vi vir trovoada
acolhi-me ao travisco,
bradei por Santa Bárbara
acudiu-me Jesus Cristo.
(Recolha feita no Lar de Colos)
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