Cada vez estou mais consciente que cada dia que vivemos representa um mar de oportunidades para novas descobertas, para novas conquistas, para estabelecer novos propósitos, para aprender a apreciar aquilo que até então nos parecia enfadonho e até assustador.
Há pouco tempo dei comigo a apreciar algo que desde há muito me assustava, me tirava a tranquilidade e na qual em hipótese alguma considerava que houvesse alguma beleza.
Refiro-me à noite!
Recordo-me que em criança, de coração e olhar inocentes, a noite encantava-me. Quando saía, os meus olhitos curiosos mal se desviavam do céu e ficava a imaginar como seria visto de perto tudo aquilo que brilhava lá no alto.
A Lua então, fazia-me galgar as fronteiras da imaginação de tal forma, que até conseguia ver gente que se deslocava nela.
E as nuvens? Com essas deliciava-me a inventar-lhes formas. Em meu redor, divertia-me com as sombras e ficava a fantasiar mil e uma aventuras que por trás delas se escondiam. Nada me assustava, tudo era mágico e encantador, tal como as histórias de arrepiar que costumava ouvir.
Não sei a partir de quando a noite me começou a assustar. Sei que a partir de certa altura, ela passou a trazer o cheiro de perda, de horror e de morte.
Também não sei porque razão, deixei de ver a noite dessa forma tão sinistra como a vi durante tantos anos. Não sei em que data foi, mas uma noite senti vontade de sair à rua e olhar para ela. Voltei a contemplá-la com os mesmos olhos de criança, de olhar inocente e da minha boca saiu um AH!
Respirei bem fundo várias vezes e fui apreciando cada um dos seus cantos, de alto a baixo! A mente foi ficando silenciosa, porque Eu queria ouvir tudo, no meio do silêncio.
Devagarinho foram-me chegando os sons, desde os mais próximos aos mais longínquos. Para não perder nada, porque eu não me queria ficar pelo que os sentidos me traziam, fechei os olhos e fiquei a sentir a noite, deixando-me inundar pelo seu poder mágico.
Desde então, reservo sempre uns minutos para saborear a sua beleza e descobrir novos encantos que ela esconde.
Ainda há pouco me senti grata pelas dádivas com que me agraciou. De olhos emocionados agradeci-lhe e disse-lhe que estava perfeita, encantadora!
Até o fresquinho que me picava os braços nús, me convidava a um abraço, que dei a mim mesma, repetindo que amo esta Luísa que hoje sou, porque esta será a companhia que jamais me abandonará.
Olhando para dentro senti um coração a pulsar de alegria e felicidade, por ter a capacidade de amar e senti também uma paz sem limites.