Há muito que tenho uma relação especial com o Mar. Noutros tempos, quando as forças ameaçavam faltar-me, tinha umas mãos que me levavam até ele e eu deixava-me levar, muitas vezes quase sem disso me dar conta.
Quando lá
chegávamos, as palavras ficavam esquecidas! Restavam as mãos, os braços e o Mar,
e o silêncio que ficava para
além do som das suas vagas, do
murmúrio com o qual falava comigo, contagiando-me com o seu vigor e sacudindo o
ar, que por sua vez me abanava, obrigando-me a sair do torpor no qual mergulhara.
Eu olhava-o e à medida que o seu aroma me ia penetrando corpo a dentro, a
respiração ficava mais tranquila e eu serenava e estava pronta para voltar às
lutas de antes.
Quando
perdi as mãos que sempre me conduziam ao mar, fiquei muito tempo sem o querer
ver, talvez mais, sem o poder ver.
Um dia
rebusquei dentro de mim os resquícios de coragem que ainda aí subsistiam e fui,
fui ter com ele, com o Mar! Fui sozinha e quando o consegui encarar, mesmo de
longe, apenas uma frase aflorou os meus lábios, frase essa que lhe repeti vezes
sem conta: Porquê?
O seu
aroma foi anestesiando a minha dor, as suas ondas pareceram-me ficar mais
suaves e ele falou-me. E respondeu-me dizendo-me que a vida era como as
suas marés, que levam umas coisas e trazem outras. Que raramente trazem aquilo
que levam e quando trazem, já nada é igual. Ele contou-me que muitas das coisas
que leva, vão ter a outras praias e outras vão até ao fundo e ficam lá
eternamente.
Assim são aqueles que partem das nossas vidas, uns partem para
outros braços, para outras paragens, mas outros têm um caminho mais longo a
percorrer, aquele que os leva para o outro lado da vida.
Hoje o
Mar é o meu amigo, o meu confidente, o meu anestésico, o meu bálsamo e até
posso dizer que ele representa o meu elixir da vida.
Quando a amargura, a
ansiedade e a angústia me tomam de assalto, eu corro para ele e se começo a
fazer-lhe a pergunta antiga, a tal dos porquês, ele volta a dar-me também a resposta
antiga, a tal das marés.
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