Era apenas uma roseira! A mais
frágil do imenso roseiral! Tinha apenas um botão.
Um botão que se negava a abrir.
Um botão com medo de ver a luz do dia.
Temia servir de escárnio aos
demais. Temia que o seu néctar fosse insípido.
Temia ser a menos bonita do
roseiral. Temia não ser digna de uma jarra.
Estava na hora de desabrochar,
mas o botão negava-se e a roseira de tão frágil, não tinha força que o
convencesse.
Mas então algo aconteceu! Mesmo
encerrado, o botão lançou no ar o seu perfume.
Era um perfume suave e doce, mas
com tanto de leve como de forte e tão forte era o odor, que galgou montes e
vales, galgou rios e mares e chegou bem longe, lá onde o Sol aquecia as margens
do Geba.
O Sol estremeceu perante tal
perfume, quis saber de onde vinha tão inebriante fragrância e com toda a sua
imponência, pediu à Terra que girasse mais rápido, queria chegar depressa.
E a Terra rodou tão rápido como
nunca, até que o Sol ficou sobre o imenso roseiral.
Lá estava ela, a frágil roseira e
ele o detentor do mágico odor.
Então o Sol lançou sobre ele os
seus raios, com a leveza de quem teme destruir um tesouro. A roseira estremeceu
e ganhou força. O botão sentiu menos medo de se abrir à vida.
E durante muitos dias a Terra
girou mais rápido sem que disso ninguém se apercebesse.
Só o Sol e a roseira o sabiam.
Era o seu segredo!
E dia a dia o Sol ia beijando a
roseira com raios ternos de carinho, com raios de força e coragem.
E a roseira ficou frondosa. E o
botão desabrochou.
Então a roseira sentiu que a sua
rosa era a mais linda do roseiral, não por vaidade, mas porque agradava ao Sol.
O tempo passou. A roseira
crescia, crescia e os raios do Sol continuavam a beijá-la, agora com raios de
amor e paixão, ora de mansinho, ora arrebatadamente.
A roseira era tão feliz! Ela
cresceu e frutificou. Nasceram e abriram outros botões, agora sem medo, fortes
de aroma. O aroma do amor! O aroma da paixão! Mas também delicados, com a
fragrância da ternura, com o perfume da amizade, com a força do companheirismo
que unia a Roseira e o Sol.
Até que um dia veio o eclipse
fatal. O Sol e a Roseira perderam-se e não mais se puderam tocar.
A roseira enfraqueceu, quase se
perdeu para a vida. Mas lá bem no fundo da raiz, ela foi encontrar o calor do
Sol. Como que por magia, ele lá estava e com ele, ela conseguiu sobreviver.
Mas a Roseira aguarda o milagre,
de que um dia o Sol possa libertar um raio, um que seja, que possa absorver
todo o seu perfume, que possa transportar toda a vida que há em si e levá-la
com ele.
E a Roseira sabe que, a partir
desse dia, Roseira e Sol, Sol e Roseira, serão um só para toda a eternidade.
Nesse dia, o Sol deixará de ser
apenas luz. Será luz e perfume e este perfume inebriará toda a Terra e todos os
roseirais espalhando o verdadeiro amor por todos os corações.
E lá em cima, o Sol e a Roseira
serão felizes eternamente!
(texto escrito em fevereiro de 2006)
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